quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

11

um atrás do outro sugere uma interjeição
mas com paz e alegria ninguém fala palavrão
mudar a cada ano é difícil de montão
mas só ser o mesmo fela já é muito paradão

inevitavelmente a virada é sugestão
novos dias e atitudes sempre marcam o coração
mas parece que a mudança só é pura diversão
num dia sendo um anjo e no outro já um cão

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

natalindo

desejo tudo e nada
faço muito e pouco
espero pela fada
agindo feito louco

estou feliz e triste
vejo preto e branco
deus é quem insiste
abrir enquanto tranco

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

woody

ele é comédia doze certa
ou talvez um pouco mais
não recuso nenhuma oferta
para vê-lo em cartaz

neurótico como sempre
um piadista preocupado
mas faz com que eu entre
no seu mundo complicado

é um gênio da escrita
seja ela onde for
com sua fama de jazzista
já garante o meu amor

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

2ª Sugestão do Blogs de Quinta

7 FILMES QUE MARCARAM A MINHA VIDA
AVISO PRÉVIO: A lista a seguir não está em ordem de importância que cada um destes filmes teve em minha vida, pois eu não saberia quais critérios usar para a construção de tal estrutura. Dessa maneira, resolvi organizá-los por ordem alfabética. Estes não são os meus filmes favoritos, muito menos os melhores já feitos em minha opinião. Tratam-se apenas de filmes que me afetaram de algum modo, independente de eu gostar ou não deles ou de eles serem considerados filmes bons ou ruins pela crítica em geral.

A História Sem Fim (1984), de Wolfgang Petersen
Este filme, como a maioria dos bons filmes de Hollywood, é baseado em um livro. Porém, eu não sabia disso na época em que eu assisti, pois devia ter uns 5 anos de idade mais ou menos. Acho que este foi o primeiro filme que realmente me marcou, e eu não estaria exagerando se dissesse que foi particularmente por causa de uma cena. A cena em que o cavalo do co-protagonista morre na areia movediça. Faz-se necessário aqui contextualizar este fato, pois na história do filme, ou melhor, na história do livro do filme, existia um pântano em que você não poderia ficar triste, se não era sugado. Enquanto o pobre do cavalo estava afundando na areia, a criança que era seu dono dizia desperado pra ele não ficar triste, pra ele lutar contra a tristeza, enfim. Isso me chocou de uma forma que nunca mais esqueci. Um cavalo que por algum motivo ficou triste e foi sugado pela areia do pântano que não tolerava este sentimento... Pelo que lembro, foi a primeira vez, e talvez única, que tive vontade de chorar vendo um filme, mas ainda assim segurei as lágrimas porque não queria que a minha mãe, que estava assistindo comigo, percebesse. Só sei que quando acabou o filme, ela quis colocar A História Sem Fim 2, pois tinha alugado os dois filmes de uma só vez, e eu não queria assistir nem a pau, pois pensava que ia ser tão triste quanto o primeiro, apesar do final feliz. Quanto mais a minha mãe insistia que o 2 era a mesma coisa do 1, na estratégia de fazer eu assistir, mais eu não queria ver, pois se fosse a mesma coisa, teria morte de animal de novo! No fim das contas, eu acabei assistindo e dei graças a Deus que não teve mais cavalo morrendo.

Brinquedo Assassino (1988), de Tom Holland
Pra você que não me conhece bem e acabou de ler o que escrevi acima, fica difícil acreditar no quanto eu amo filmes de terror. E um filme de terror onde o assassino é o Fofão, não tem como não estar nesta lista! Tá bom, eu sei que o boneco do filme não era o Fofão, mas todo mundo associava a ele devido à semelhança. Apesar de ser um clássico dos anos 80, não foi o filme em si que me marcou, mas sim o efeito que ele teve sobre as pessoas, pelo menos as que eu tinha contato quando era pivete. Não esqueço da época em que todo mundo abria o seu Fofão pra ver se tinha uma faca ou uma vela, pois isto era sinal de que o boneco era amaldiçoado! Lembro de ver o Fofão da minha vizinha jogado no meio da calçada, coitado. Não sei o que ela havia encontrado nele, não sei nem se ela se deu o trabalho de procurar alguma coisa, só sei que ela não quis mais saber do brinquedo. Lembro-me muito bem do dia em que eu e minha mãe abrimos o meu Fofão pra ver se tinha alguma coisa dentro. Não sei se ela acreditava nessas coisas ou só tava fazendo isso pra me alegrar, pois eu torcia pra que houvesse algum indício de que o meu Fofão era amaldiçoado! Seria muito legal saber que meu boneco era um perigo real à vida das pessoas, e nem passava pela minha cabeça que a vítima pudesse ser eu ou alguém da minha família, eu só queria que ele fosse asssassino e pronto! Pena que só havia bolinhas de isopor...

Mortal Kombat (1995), de Paul W. S. Anderson
Nossa, como eu gostava desse jogo! Lembro no primeiro dia de férias de milhões de anos atrás, quando eu fui com a minha mãe e um amigo meu da época comprar meu cartucho do Mortal Kombat 2 pro Master System 3 e vi a versão do jogo pro Mega Drive numa das televisões da loja, achando uma perfeição os gráficos, com um cara jogando o outro com um murro pra dentro do esgoto de ácido e depois só aparecendo a caveira do indivíduo boiando... Quando saiu o filme no cinema, estavam eu e meus dois primos na primeira fila, já com dor na nuca de tanto olhar pra tela. Eu não entendi nada da história, pois o filme era legendado e eu ainda não tinha aprendido a ler rápido o bastante pra acompanhar filmes que não eram dublados. Mas naquela época a história não era importante, eu queria ver a pêia! Quando o filme chegou nas locadoras, meu primo mais viciado de todos alugou, copiou (em VHS, é claro) e assistiu mais umas 100 vezes seguidas sozinho. Lembro até que o pai dele, que era especialista em coisas eletrônicas, fez uma gambiarra lá com videocassetes e microfones que deu pra gente colocar nossas próprias vozes no filme. Nós dublavamos mortos de felizes, frescando muito, claro, hehe! Bons tempos aqueles...

O Exorcista (1973), de William Friedkin
Sou suspeito pra falar desse filme. Não porque amo filmes de terror, mas porque esse é o meu preferido! Não só dentre os filmes de terror, mas esse é o meu filme favorito de todos os tempos! É um dos poucos desta lista que também está na minha lista de filmes preferidos. Ele me marcou porque foi o primeiro - talvez o único - filme de terror que realmente me meteu medo, aquele medo de você não conseguir dormir. O fato de eu saber que o filme era baseado em fatos reais também ajudou, mas aqui abro um parênteses: o povo tem mania de dizer que o filme é baseado em fatos reais só pra chamar a atenção do público, quando na verdade é somente inspirado em alguns fatos, na maioria das vezes bem diferentes do que se mostra no filme. Por exemplo, no caso d'O Exorcista, o roteirista do filme, que não por acaso é também o autor do livro que deu origem à película, inspirou-se em uma notícia de jornal que falava sobre o exorcismo de um garoto que estava possivelmente possuído pelo demônio. Dái pra baseado em fatos reais é um abismo! Pois bem, eu poderia dizer que esse foi o único filme de terror (terror mesmo) que concorreu ao Oscar de melhor filme, poderia dizer que ganhou 2 Oscars dos 11 que concorreu, poderia dizer que foi o filme que criou as regras básicas de filmes de exorcismo, inovando em relação aquilo que já existia, e poderia dizer também que é considerado o melhor filme de terror de todos os tempos por gente muito séria do cinema... Mas aqui só vou falar sobre meus sentimentos sobre ele. O Exorcista é um filme que não apela pra sustos, pois aquela menina feia aparece constantemente no filme como qualquer outro personagem, e embora você saiba que ela vai aparecer, mesmo assim sente medo. A atmosfera setentista (pros dias de hoje) é perfeita pro tipo de história que se pretende contar, pois dá um clima de antigo, de passado, que só faz somar à tensão já existente na própria história.

O Máskara (1994), de Chuck Russel
Sempre fui fã do Jim Carrey. Embora antes d'O Máskara ele já tivesse feito um dos principais filmes dele, Ace Ventura, O Máskara foi o primeiro dele que eu vi. Pouca gente sabe que esse filme é baseado em uma HQ honônima, sendo que nos quadrinhos o personagem é muito mais violento do que no filme. Lembro que vi o trailer desse filme na televisão, e pirei nos efeitos, nunca tinha visto algo naquele estilo senão em desenhos animados. Fiquei louco pra ver o filme no cinema, mas não tinha a idade suficiente da censura, então tive que esperar sair em VHS. Quando eu era criança, adorava desenhar, e depois que eu vi O Máskara, eu não desenhava outra coisa senão caras assustados saindo a caveira pela boca, saltando os olhos, esse tipo de coisa... Eu simplesmente adorava desenhar essas coisas, exagerava mesmo. Bem, isso é tudo o que eu tenho pra falar a respeito de como esse filme me marcou. Pode não ser muito, mas pra mim a intensidade foi devastadora!

Tempos Modernos (1936), de Charles Chaplin
Este é outro filme que também está na minha lista de favoritos, em segundo lugar, logo depois de O Exorcista. O que posso falar sobre Chaplin? Que ele foi e ainda é o maior comediante de todos os tempos? Que ele foi um dos artistas mais talentosos e versáteis do século XX? Que ele foi e é um dos maiores cineastas de todos os tempos? Sim, posso dizer tudo isso. Posso dizer também que esta película em particular me marcou de uma forma que nenhuma comédia jamais me marcou, seja pelo seu humor sarcástico ou inocente, pois Chaplin sabia dosar ambos como ninguém. Lembro que eu me identificava - ou pelo menos queria identificar alguma coisa minha em Chaplin - e ainda me identifico com ele na cena em que ele sai da fábrica cheio de tiques devido à mesmisse do trabalho, apertando qualquer tipo de coisa com as ferramentas... hehehe! A cena em que ele é escolhido para testar uma máquina de alimentar os empregados da fábrica no menor tempo possível, assim evitando perda desnecessária de tempo e dinheiro, é talvez, para mim, a melhor cena de comédia do cinema. Bom, existem casos que realmente não se tem mais o que dizer, pois se há uma verdade absoluta é que Charles Chaplin é O Cara!

Toy Story (1995), de John Lasseter
Bem, pode vir Wall-e, pode vir Up, pode vir qualquer animação digna de Oscar, mas minha preferida é e sempre vai ser Toy Story! Não que Toy Story não seja digno de Oscar, mas eu digo isso porque, antes dessa moda de colocar drama em animação pegar - o que, deveras, é muito interessante -, Toy Story já emocionava pela simplicidade, espontaneidade e ingenuidade, ou seja, tudo o que você tem quando é criança. Esse filme é sobre isso: infância. Sem falar que foi o primeiro longa-metragem feito interamente em computadorização gráfica (na verdade, foi a animação brasileira Cassiopéia, mas Toy Story foi lançado antes). Eu mesmo me surpreendo por este filme não estar na minha lista de favoritos, pois sempre que eu vejo passando na televisão eu paro pra assistir... É aquele tipo de filme que nunca cansa de ver. De fato, é um dos meus filmes favoritos, caso a lista seja de 15 ou 20 filmes. "Ao infinito e além"!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

8º CONTO

ELA E O DIA

Depois de uma música que falava sobre dor, maturidade e compromisso, guardou o MP4 na bolsa e recostou sua cabeça no vidro da janela do ônibus. Agora ela só queria escutar o som do mundo com tudo o que havia de bom e ruim para se ouvir: o barulho da catraca, das moedas, a conversa dos passageiros, as buzinas dos carros, o som dos motores, das crianças brincando na calçada do lado de fora, das folhas das árvores em contato com o metal de sua condução...

Fechou os olhos e só assim foi capaz de perceber a brisa que há muito tempo acariciava seu rosto. Recordou de uma viagem que fez quando ainda era menina, quando seus pais ainda estavam juntos, mas ela só queria brincar com as crianças da praia. Apenas um momento de relação com os pais durante essa viagem veio à memória, fazendo-a se surpreender por nunca ter se lembrado disso antes: a mãe abraçava o pai pela cintura, e este apoiava a filha sentada em seus ombros em frente ao pôr-do-sol, debaixo de um céu laranja. Teve dúvidas sobre se aquilo realmente havia acontecido ou se era apenas uma necessidade sua construir aquela bela imagem. Chegou à conclusão de que nenhum dos casos comprometia a validade daquele pensamento para si mesma, e então decidiu adotá-lo como a primeira vez em que parou e celebrou a vida.

Abriu os olhos levemente e olhou pela janela quando o ônibus passava em frente a uma loja de fantasias. Reparou em uma máscara exposta na vitrine e a reconheceu-a de um filme de terror ao mesmo tempo em que se lembrou de um quadro expressionista onde o pavor era evidente. O pânico gritava sua existência no mundo, mas ela era maior, não porque demonstrava indiferença ou o negava, mas porque o ouvia, o reconhecia e, mesmo assim, não se sentia ameaçada. O medo de costume era ridículo naquele momento, e a consciência deste fato a fez suspirar de orgulho.

Enquanto mexia levemente a cabeça a fim de encontrar uma posição mais confortável, percebeu que um rapaz no acento à sua diagonal mantinha o pescoço virado de tal forma que pudesse observá-la sem constrangimento. Ele parecia estar há um bom tempo fitando-a com curiosidade e apreço. A paz que a envolvia e emanava de si permitiu que ela retribuísse o olhar com um sorriso de brinde, sem preocupações sobre como aquele gesto estaria sendo interpretado pelo seu par, que ela via como parte de tudo. Mas como a vida era maior e apaixonadamente convidativa, após alguns segundos de troca de olhares, ela recolheu seu interesse à posição original.

Chegou à sua parada, mas ela não se moveu. Mesmo assim, o ônibus parou para alguém descer. Estava decidida a continuar aquela viagem até que alguém a expulsasse dali e refirmasse seus pés no chão à força. Antes que o veículo começasse a andar novamente, sentiu algo tocar sua cabeça de leve pelo lado de fora. Pensou ser a costumeira visão de mundo lhe chamando de volta, implorando-a para pousar no lugar certo. Sem mover o pescoço ou o olhar, ela esboçou um sorriso como se vangloriando por não se sentir tentada. Só então, o ônibus continuou a andar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

saudade é ambiguidade

saudade
solidão à parte
arte de um todo
de toda verdade

saudade
sempre vem tarde
presente daquela
e dessa ansiedade

saudade
somente uma idade
com tempos felizes
de pura vaidade

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

pés no chão

pés no chão dizem a verdade
que ninguém quer mais ouvir
corro e pulo pra conseguir
enganar essa gravidade

mas só é fácil até a idade
em que nada mais importa
pois só durmo e como torta
contentado com a barriga

nunca fui tão bom de briga
a batalha começa cedo
e todo dia eu tenho medo
de não cair numa paixão

como escada sem corrimão
e não pular nem correr mais
aproveitando toda paz
que nunca traz uma ilusão

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

gozo

gozadamente
gozada mente
gozar da mente
gozar-me em ti

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Série Velhos Poemas: LADO NENHUM

medroso onipotente
em plano inexistente
ilusões reais
sobre a realidade

o vazio se recolhe
em sua timidez
a solidão me encurralada
por lado nenhum

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

palhaço de folga

ele ria e dava cambalhotas
fazia graça mesmo sem querer
e com suas sombrancelhas tortas
tomava susto no espelho ao se ver

com sua ginga ele armava confusões
trapalhadas para lá de divertidas
e já sofrera trezentas contusões
mas tinha muito mais que sete vidas

mas um dia o palhaço se cansou
fazer graça não tinha mais sentido
foi tão cobrado duramente que surtou
tão sozinho, cabisbaixo e oprimido

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

a verdade sobre o galã matador

numa cidade tão pequena quanto escrota
morava um cabra mais valente que o cão
que namorava uma rapariga tão marota
que nem o padre quis ouvir sua confissão

eis que um dia pisou lá um forasteiro
que proferia ter matado mais que doze
com todo o ar de mocinho justiceiro
instigou o valentão a sair da pose

a rapariga no começo teve medo
de seu macho finalmente morrer nessa
mas mudou de torcida logo cedo
pois o galã lhe deu um trato bom a bessa

injuriado pelo chifre e a ameaça
o valentão tirou do cinto sua peixeira
e foi atrás de enfiar na sua caça
que quando viu aquilo fez carreira

sem entender o que tinha se passado
o macho então só matou a rapariga
se gabando por ter afugentado
mais um que se dizia bom de briga

após anos souberam da notícia
que o galã levara bala por comer
a noivinha de um membro da milícia
que não deixou o gaiato se escafeder

o foresteiro era só um come-e-some
que se passava de machão pra conseguir
esfolar todas as putas de renome
que o sertão já foi capaz de produzir

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

situação

meu paraíso escondido
é uma inércia ridícula
aos olhos de outrem

navego sobre ondas
de oportunidades
e nunca me afogo

inércia é movimento
movimento sem parar
navegando nunca só
mas só no mesmo mar

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

DIÁLOGO XIV

O DIA QUE NINGUÉM MORRE

Tenho pensado nas minhas atitudes e na falta delas. Tenho pensado que tudo poderia ser diferente se eu quisesse, mas eu insisto em não querer ou em querer de outro jeito. Isto é demasiado repetido em minha mente e em minha vida prática, onde essa é a palavra de ordem: repetição. Quando penso no que escrever, todas as idéias se convergem no mesmo grande assunto: solidão/acomodação. Isso me incomoda, embora possa viver bem assim. Eu procuro o mesmo, corro atrás do mesmo. O mesmo nunca me persegue, pois é parado por natureza. A culpa e o mérito por tudo isso são todos meus. O que me mata não é a falta de opção, não é a incapacidade de visualizar algo diferente, e sim a responsabilidade pela mesma escolha sempre, e sentir que ela é sempre certa. Eu posso fugir disso quando quiser, mas prefiro me manter aqui. Posso viver a diferença só na imaginação, e isto basta. Dói porque basta, dói porque não preciso de mais nada. E que venha mais nada.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

vida de herói passa voando

ele era cientista e fazia arte
era elogiado em toda parte
constuiu todo aquele baluarte
foi o primeiro a pisar em marte

"mas ele era tão alto e forte"
disse alguém após sua morte
que não foi só falta de sorte
quis dar amor e levou corte

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

o ruinzão

furto um boneco de pano
acerto um prego no cano
e mato aquele que disse
que sou o fuleiro do ano

maltrato um fofo bichano
jogo o moleque do insano
e esfolo aquele que disse
que sou o safado praiano

engano um cego fulano
desfaço o perfeito plano
e bato naquele que disse
que sou o lunático urbano

transformo sagrado em profano
fresco com uma orelha de abano
e esmago aquele que disse
que sou o pior ser humano

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

o breque de um nômade

meu desejo
não despejo
quero beijo
e bocejar

minha fala
nunca cala
pego mala
a calejar

meu afoito
só dá coito
quero oito
pra açoitar

meu fatigo
tá contigo
e o castigo
é mendigar

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

7º CONTO

PRIMEIRO CONTO

Até algum tempo atrás, eu achava que uma das minhas melhores qualidades era a de ser capaz de manter minhas emoções controladas, dentro de um limite especificado da maneira que eu bem entendesse. Nunca tivera impactos psicológicos devido a situações inesperadas, mentiras descobertas, desilusões amorosas. Sempre mantivera os pés no chão, até certo dia.

Noite de sábado e estava eu pronto para ir a uma festa de despedida do colegial. Não só iriam estar lá todos os meus amigos, que por anos estudaram comigo, como também alguns convidados destes.

Estávamos no auge da festa e eu, mais do que nunca, sentia-me livre. Leonardo, meu amigo desde o primário, chamou-me para apresentar-me uma prima dele que, por sinal, não se sentia muito à vontade com toda aquela gente desconhecida. Quando fomos apresentados, notei algo mais do que simples conveniência ou simpatia no olhar de Soraia. Olhava-me como se quem estivesse à sua frente fosse um alguém muito querido por ela, mas muito distante de qualquer espécie de carinho que este pudesse vir a manifestar a seu favor. Não era normal para mim, estar dentro de uma situação como aquela, na qual eu era quem menos se sentia desconfortável. Tão rápido quanto frio pareceu ser nosso comprimento, mas os olhares não enganavam nem ao mais duro dos corações humanos. Já bastara.

Passamos o resto da festa conversando sobre assuntos que eu nunca julgara serem os melhores para se tratar com garotas tão especiais. Mas Soraia tinha uma maneira tão surpreendente de fazer com que qualquer coisa fosse a única que realmente importasse em determinado momento, que eu não me sentia culpado por não querer fazer da situação algo especial, embora já o fosse por espontaneidade.

No final da festa, trocamos números de telefones e voltamos cada um para seu devido lugar. Despedidas sempre foram algo tão indiferentes a si mesmas que até eu tornava-me indiferente a elas. Mas dessa vez era algo que me incomodava, somente por não ser algo especial dentro daquele momento que parecia ser tão incomum e mágico. Antes de ir, Leonardo cochichou em meu ouvido alguma brincadeira como um “cuide bem da minha prima ou eu não me responsabilizarei por meus atos” e saiu sorrindo. Eu ri da brincadeira de meu amigo e ao mesmo tempo da situação ridícula na qual eu me encontrava. Não acreditava que estava tão à vontade com a presença de uma garota. Em todos os relacionamentos em que eu me envolvera, nunca houvera sentido tamanho sentimento de satisfação pelo simples fato de estar perto de alguém. Sentia que precisava me controlar.

No dia seguinte, estava cansado e decidido. Ligaria para Soraia e a conquistaria como tivera feito com todas as outras garotas com quem eu chegara um dia a querer me envolver, mas nunca a me apaixonar. Tão somente começaria como tão indiferentemente terminaria. E assim foi feito. Após duas semanas de saídas e diversões já premeditadas, eu e Soraya dávamos as mãos não só como simples amigos, mas como um casal. Perfeito, se não fosse pela minha ansiedade e provável remorso após livrar-me daquilo que mais fazia sentir-me importante e feliz: estar com ela.

Após todos os nossos encontros, já em minha casa – meu canto de liberdade para esvaziar meu coração de sentimentos tão puros quanto indesejados e de refúgio de uma realidade que eu não confessava ser a de meus sonhos –, eu relembrava cada frase, cada olhar e cada gesto, para fazer um pequeno levantamento das possibilidades de Soraia poder, um dia, vir a dar um fim em nosso relacionamento antes que eu mesmo o fizesse.

Com o passar do tempo, nossos encontros tornaram-se mais freqüentes, e a cada dia eu racionalizava meu possível abandono com mais preocupação do que precaução. Estava preocupado com o grau de intimidade a que nossa relação se sujeitava, embora fosse eu o principal causador de nossa maior aproximação. Eu não conseguia mais olhá-la com a mesma frieza de antes, nem tocá-la com a mesma mão “descompromissada” como das primeiras vezes. Já era tarde, estava apaixonado. Sentia-me culpado por guardar um sentimento tão lindo e complexo dentro de mim e não querer revelá-lo nem mesmo a quem o tinha plantado em meu coração. Não queria expor-me a tal vulgaridade, talvez por puro orgulho ou simples inexperiência.

Soraia era como a única estrela, além do próprio Sol, cuja luz iluminava minha mente e meu ser em plena semente da manhã. Já me cansavam as conformidades e seguranças do dia-a-dia, sem nem mesmo ter controle sobre nada que tivesse um broto de relevância ou simplesmente valesse a pena. Soraia era tudo e tão somente minha estrela da manhã.

Nunca tivera pensado tanto em alguém e em mim mesmo como naquela noite em que meu coração dissolvia-se em lágrimas de paixão. Finalmente percebi que, naquele momento, a melhor qualidade que qualquer ser humano que se considere livre possa ter é a de ser capaz de sentir. Não importa o quanto alguém possa resistir, nunca será o bastante para cobrir o tamanho infinito da tristeza, da alegria, do amor. Pela primeira vez, sentia-me humano de verdade. Era inevitável.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

mover

nova mente
novamente
movimento
devagar

nove mentes
nove mentem
momentâneo
relaxar

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

descarte

descarto conveniências momentâneas
como uma corda velha de um violão
rejuveneço minhas opções de fuga
como o estrago de uma explosão

neste rio não há pedras preciosas
somente grãos que sempre se perdem
suas águas têm a cor de um castigo
que cai sobre todos que delas bebem

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

dança

inquieta-me aquele corpo
tão belo quanto imperfeito
partes que não combinam
mas um todo que se basta

arrastam-me a seu encontro
tão forçado quanto querido
aquele instante sem opção
durou o tempo que escolhi

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Série Velhos Poemas: IDÉIAS DE TOLEDO

A Descoberta

resumia-se à revelação de prazeres
antes apagados
mergulhados no mar da verdade que existia
além da solidão
bastavam estreitas linhas de rebeldia
para costurar seu amargo lençol rotineiro

a capacidade de expelir idéias superava a da revelação própria
e sua doente procura por onde vomita-las
só brilhava-lhe os olhos



O Medo da Descoberta

mente comprimida a cadeados
já que o abstrato era a fala por si só

seu único tudo e confidente de si próprio
enterrado no absurdo eram mais que pensamentos
pois estes voam



O Exílio

vontade disfarçadamente proposital
sem ver nem ouvir nem sentir
nem pensar nem dormir

rendia-se ao luxo e glória do próprio egoísmo
erguido ao som de resquícios do passado
e sobras do antes prato principal do presente

em sua mesa repleta de ironias e coberta
totalmente



Momentos de Presunção


ao tempo em que era dito a se livrar dos botões
que lhe protegiam o peito
absorvendo estrangeirismos já coagulados
por conveniência

era que se dizia criador
por pura presunção ou mero devaneio



Momentos de Verdade

a normalidade nos bastidores era o seu fim

e a fome por si mesmo o libertaria
por meio de consideráveis explosões
do silencioso caos que comprimia sua alma

até que esta perdesse seu único surto
de ousadia
e perversão

que se via sutilmente obrigado a guardar
entre panos de louça limpos



Raivas

de tudo aquilo que pensavam e diziam
livrava-se a partir de socos invisíveis para fora
seguindo o ritmo da bola de barbante que corria sobre o plano inclinado
sem tamanho



A Decisão

sua pele serviria de esconderijo
e morderia a língua quando questionado

debaixo da cama os pensamentos se amontoavam
e não perderiam o rumo nunca mais



O Desfecho

e no auge de sua devoção
ao quase sempre amigo e inexplicável universo
de portas trancadas e sem janelas

morria uma ou duas vezes
para não chorar

após descobrir que no fim das contas
simplesmente poderia estar ele certo

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

a pior de todas

ventoinha de estilete
borboleta cacoete
filomena's joanete
video-game de macete

pistola de espoleta
pimenta malagueta
bulinada monoteta
pica-pau de chupeta

trampolim feito gilete
espocada de chiclete
comadre marinete
marceneiro de charrete

frigideira de bisneta
deputado de pateta
empolada de atleta
firmulino pega-feta

sábado, 31 de julho de 2010

meu merecer

um sopro de samba
numa corda-bamba
o gosto da lama
me ajuda a viver

um cristal na mesa
não mostra beleza
mas doa leveza
pra quem quiser ter

meus meros anseios
não medem os meios
e nem ficam cheios
de tanto querer

envoltos em laço
todos querem um pedaço
mas não sei o que faço
pro meu merecer

sexta-feira, 23 de julho de 2010

a montanha

o meu lugar é abatido e ordinário
um santuário escondido por merecer
que nunca vê algo fora de suas mãos
mantendo sãos seus passeios circulares

os olhares sempre inventam o que enxergam
e nunca cegam sua repulsa pela montanha
tão estranha que parece não existir
e só surgir quando falida e aceitada

conformada segue a estrada interior
sem muita dor nem vontade restantes
por intantes parando ou tropeçando
e levantando no mesmíssimo lugar

sexta-feira, 16 de julho de 2010

1ª Sugestão do Blogs de Quinta

7 LIVROS QUE MARCARAM A MINHA VIDA
AVISO PRÉVIO: A lista a seguir não está em ordem de importância que cada um destes livros teve em minha vida, pois eu não saberia quais critérios usar para a construção de tal estrutura, e mesmo se soubesse, ainda assim seria complicado, visto que literatura não é o meu forte. Dessa maneira, resolvi organizá-los por ordem alfabética.

A Palavra e a Palavra, de Horácio Dídimo

Esse é um livro de poemas escritos de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Provavelmente esse estilo de poemas não foi inventado por esse autor, mas foi através dele que eu conheci esta forma de escrever poemas, que me influencia até hoje (os últimos dois conjuntos de poemas postados aqui no meu blog na "Série Velhos Poemas", além do próximo que vou postar nessa mesma série, foram inteiramente influenciados pelo estilo desse autor, pois fiz na época em que li esse livro). Acho que foi o único livro que me deu realmente vontade de conhecer o autor, o que felizmente consegui fazer, pois como se tratava de um paradidático cobrado no vestibular da UFC da época, houve uma palestra com o autor no Centro de Convenções, onde tive a oportunidade de perguntá-lo acerca do significado de um dos poemas do livro, e outra palestra que o meu colégio conseguiu agendar com ele, onde consegui seu autógrafo - que já nem sei onde se encontra, se é que ainda existe.

A Terceira Visão, de Lobsang Rampa

Esse livro é uma autobiografia de um monge tibeno, onde ele conta histórias tão fantásticas que é difícil para nós ocidentais acreditarmos, como o próprio autor do livro acentua em algumas passagens. Porém, independente da veracidade dos fatos relatados no livro, ele me marcou porque, além de ser um dos poucos que eu lembro que li por vontade própria, sem ser uma cobrança dos estudos, fez-me abrir a mente para o desconhecido, para as possibilidades, enfim, fez-me questionar as minhas próprias crenças.

Dizem que os Cães Vêem Coisas, de Moreira Campos
Meu tipo de livro preferido é de contos, e nesse quesito, Moreira Campos me aparentou ser um mestre. Esse foi o livro que me motivou a ler outros livros de contos sem precisarem estar relacionados com os estudos. Lembro-me da época de cursinho em que eu passava o intervalo na biblioteca procurando livros de contos para alugar. Eu até me estranho recordando disso, pois nunca fui muito de ler, mas nessa época de vestibular realmente eu não era eu mesmo. Os contos que eu escrevo são bastante influenciados por Moreira Campos, não sei se no estilo, mas com certeza na motivação de escrevê-los.

Laços de Família, de Clarice Lispector
Se "Dizem que os Cães Vêem Coisas" foi o livro que me motivou a ler e escrever contos, "Laços de Família" foi o livro que me apresentou esse estilo literário e fez-me adorá-lo. Lembro até de um trabalho do colégio - sim, esse livro foi um paradidático do 2º ano do ensino médio - em que cada grupo teria que fazer uma peça de teatro baseado em um dos contos desse livro. O meu grupo ficou responsável por dramatizar o conto "A Imitação da Rosa", onde eu fiz o papel da protagonista - sim, vesti-me de mulher. O conteúdo e a forma da escrita "lispectoriana" é tão conhecido que se torna indispensável falar sobre, mesmo porque eu não saberia como fazê-lo. Tudo o que eu sei foi que essa escrita me tocou de uma forma que só uma conhecedora profunda da subjetividade humana poderia conseguir. Clarice sente. O pensamento é sobre o sentimento. As palavras são sobre sentimento, e são sentimentos elas próprias. E a razão? Não sei, mas está bem longe do ser humano.

Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
Esse livro é sobre infância. É sobre um garoto que conversa com um pé de laranja lima sobre as coisas que lhe ocorrem. Nossa, mas que livro chato! Nunca desejei tanto acabar um livro quanto esse, acabar tanto de ler como acabar fisicamente com ele - pelo menos até a época em que eu o li, porque depois disso veio "Agosto", "Os Sertões", enfim... Então, por que ele está aqu? Justamente por isso, ou seja, exatamente por ter sido a minha primeira grande dificuldade enquanto leitor foi que ele marcou a minha vida, mesmo que tenha sido negativamente. Lembrando hoje, não me parece um livro ruim, claro que não, eu até conseguia gostar de lê-lo em alguns momentos, mas como a maioria dos livros desta lista, trata-se de um paradidático do colégio, e esta maldita cobrança não me deu o tempo necessário para que eu aproveitasse essa leitura de forma que ela pudesse me preencher mais do que me esgotar.

O Enigma da Casa de Vidro, de Ganymédes José
A história desse livro fala de um rapaz que resolve entrar em uma hospedaria abandonada, e lá ele encontra um diário de algum dos hospedes de anos atrás relatando fatos intrigantes que ocorreram lá. Pelo que eu lembro, na época em que eu li esse livro, ele se tornou meu livro preferido. Deve ser por isso que sempre quando alguém me pergunta sobre os melhores livros que eu já li na vida, ou os que mais me marcaram, como é o caso agora, o primeiro que eu lembro é ele. Acho que o principal motivo disso é porque a história é cheia de suspense, com algumas insinuações de terror e tal, esse tipo de coisa que eu sempre amei. Na época, eu nunca tinha lido um livro desse estilo, talvez por isso tenha me chamado tanta atenção.

Será que É? Será que Não É?, de [?]
Tudo bem, já falamos de poemas, contos, biografias e romances, mas agora vamos deixar de papo furado e falar sobre algo realmente sério... Esse livro é macabro! Não, sério... esse livro é muito bizarro!Como vocês podem ver, eu nem sei o nome do autor, até procurei no Google mas não achei nada a respeito dele e nem do livro, o que me faz até duvidar se esse é mesmo o título, e até se esse livro realmente existe ou se foi uma invenção do demônio. Enfim, vamos ao que interessa... Tá bom, eu sei que é só um daqueles livros infantis que em cada página tem uma ou duas frases, mas na época em que eu li, ou melhor, em que a professora do Jardim II leu pra gente pouco antes do recreio, ele me meteu muito medo! O pior de tudo, é que o livro não tem nada que normalmente possa assustar, pelo contrário, todos os meus coleguinhas de sala morriam de rir enquanto eu morria de medo, esforçando-me para dar uma risadinha legítima que fosse, mas só conseguia disfarçar. A história é sobre um menino que, sem motivo aparente, começa a ter as partes do seu corpo transformadas em outras coisas, nem lembro quais. E todo o livro girava em torno do seguinte padrão: "Será que é? Será que não é? Meu(minha) [parte do corpo] virou um(a) [objeto rimando com a parte do corpo]!" E esse começo, que eu acredito que serve de título para o livro e que expressava a grande dúvida e confusão na mente do garoto sobre a veracidade do que estava a lhe acontecer, era o que mais me aterrorizava. Esse padrão era tão repetido durante o livro que, na minha memória, a professora até encorajava às crianças a dizerem "Será que é? Será que não é?" junto com ela, e todas faziam-no se divertindo aos montes! Quer dizer, todas menos eu... Até quando a professora virava o livro para nos mostrar as figuras, onde em vez de um braço, ou uma perna, ou uma boca, etc, tinha alguma outra coisa no corpo do garoto, eu fechava os olhos para evitar a lembrança atormentadora da imagem. Aquilo era um show de horror! Parecia uma ceita demoniaca onde essas palavras serviam de prelúdio para cada frase de evocação do satanás! É como se fosse o inverso de "Aleluia!" ou de alguma dessas frases que as pessoas dizem na missa em coro repetidamente, intercaladas por alguma outra frase do padre, sei lá... A única das passagens que eu lembro de todo o livro, talvez por ser a mais aterradora ou por ser uma das poucas em que eu tive coragem de ver a gravura correspondente a ela, é "Será que é? Será que não é? Meu nariz virou um chafariz!". Será que isso é ou não é sinistro?! Depois de tudo isso, vou ver se ainda consigo dormir...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

DIÁLOGO XIII

UM OLHAR INTENCIONAL

O que é mais importante em um livro, as ilustrações ou as palavras? O que é mais importante em uma música, a letra ou a harmonia dos sons? O que é mais importante em um filme, a história ou as imagens? Acho que um livro pode muito bem viver sem gravuras, mas não sem palavras. Uma música pode muito bem evocar sentimentos somente com os sons, mas tire estes e tente chamar o que sobra de "música". Da mesma forma, um filme pode apontar para um universo de significados somente por via das imagens, mas não poderia ser considerado um filme sem estas.

O que eu quero dizer é que cada forma de arte tem a sua essência, aquilo que a define, aquilo que não pode faltar, pois quando falta, compromete o seu próprio conceito. Claro que eu gosto de ler um livro onde possa ver imagens ilustrando algumas passagens, claro que uma música pode guiar meus pensamentos por belos caminhos através da expressão verbal de outrem, e é claro que é muito divertido assistir a um filme que me conte uma boa história. Mas isso tudo é o essencial em cada caso? Não. Aqui só estou falando de três formas de arte, mas creio que isso vale para todas as demais, e o essencial em cada uma nunca é idêntico ao outro, por mais semelhante que possa ser.

Isso parece muito óbvio, mas não é fácil perceber o quanto resistimos à apreciação dos aspectos fundamentais que servem de base para uma obra artística, e eu estou falando da apreciação somente desses aspectos. Isso não quer dizer que eu desconsidere todo o recheio que faz o bolo ficar mais suculento, mas sim que frequentemente esquecemos sua principal função: alimentar. E assim como o bolo, a arte nos alimenta de sentido, de significado, de sentimento, ou seja, de boa parte do que o ser humano precisa para sobreviver neste mundo inóspito. O resto é vaidade.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

minipoema à jovem mulher que me fez lembrar da bela índia

lança o tema
sem dilema
caiu o trema
do aguentar

tão amena
iracema
o problema
é não amar

quinta-feira, 24 de junho de 2010

menina-flor

o monstro desajeitado é só um estranho qualquer
a evidente fealdade não impede um puro convite
o primeiro sorriso é fácil pra quem nasce da loucura
em inocentes lições sobre a beleza de coisas simples

a pureza da ingenuidade traz lamentáveis suposições
na mais bela metáfora encontra-se o mais triste fim
a realidade física do mundo faz-se novamente impiedosa
e põe medo em um novo ser construído de todos nós

quinta-feira, 17 de junho de 2010

graça

poda a sobra de tempo da vida
para caber a beleza escondida
em sete palmos de terra batida
que qualquer um pode cavar

enquanto a lágrima de sua querida
se orgulha por não ser escorrida
mesmo estando sempre munida
de tantos bens que não soube amar

depois de anos de graça falida
deparou-se com a riqueza perdida
ao passo da última dor sentida
que não fez questão de acalentar

quinta-feira, 10 de junho de 2010

6º CONTO

UM NOVO HOMEM

Arrumava-se em frente ao espelho como quem sentia algo tão forte a ponto de a face não conseguir transparecer e, por isso, continuasse intacta. Quem o observasse não reconheceria ninguém, nem mesmo aquele ser que outrora expelia seus sentimentos de tal forma que nem o próprio se julgava capaz.

Ainda havia pistas da recente mudança: a mala entreaberta sobre a cama, as cortinas fechadas em plena noite, o aparelho de som esquecido no sofá da sala... Abotoava a nova camisa branca na qual pretendia derramar vinho tinto e o vômito de quem quer que fosse. O espelho, provisoriamente no chão e encostado à parede, assistia à cena onde ele escondia tudo, menos sua decisão. Era só agir de acordo com seu instinto puramente humano.

Olhava com desprezo e ironia para o reflexo dos velhos sapatos, condenados a um canto escuro e solitário onde as baratas pudessem fazê-lo de moradia. Sobre eles, tivera vivido acontecimentos dos quais queria lembrar para não esquecer de sua promessa. Os novos calçados eram recém comprados, e não há muito o que se falar sobre eles, senão que eram pretos e cheirosos.

Os fatos que o levaram até ali encontravam abrigo para seus resquícios nos olhos de quem os vivenciara. Assim como os sapatos, o terno cinza novo tivera sido comprado poucas horas antes, quando decidira se mudar de vez para o apartamento. Vestia-o como quem vestisse uma capa para esconder-se ou vangloriar-se em frente aos demais – era mais ou menos isso o que planejava.

Estendeu a mão calmamente para pegar a gravata que estivera repousando sobre a cabeceira da cama. Era de um tom prateado com listras pretas e cor de vinho que cortavam-na diagonalmente, perfeitamente. Enquanto dava o nó, pensou na decisão que tomara e tentou descobrir alguma coisa importante de que precisaria abrir mão, mas não encontrou. Era mesmo o que queria. Estando certo ou não, precisava daquilo para sobreviver sozinho ou entre qualquer roda de amigos ou de inimigos, o que, deveras, dava no mesmo.

Ao terminar de se vestir, virou o corpo discretamente para ambos os lados, mantendo a cabeça voltada para o espelho a fim de notar se estava bem apresentável. Afinal, este era o primeiro passo para ser como o resto dos homens. Pronto, estava pronto.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

preto & branco

a atmosfera bicolor de tempos remotos me desperta
para um olhar receptivo aos segredos fundamentais
onde um truque de luzes e filtros constroi o irreal
e toda escadaria pede um movimento para o alto

uma beleza estética nunca foi de todo mal
registros sobrepostos criam crenças momentâneas
que se dizem tão eternas que só vivem nas lembranças
dos que enxergam o todo em cada parte viva

um perfeito arcoíris não precisa de sete cores
pois cada uma tem sua forma de amor ao mundo
e nenhuma delas diz mais nada quando enfeites
pois só sentem que afetam quando artes por si só

quinta-feira, 27 de maio de 2010

morena menina

morena menina com sorriso fácil
mormaço da terra que pisa com gosto
seu rosto princesa precisa de outro
solto e envolto nas curvas do enlaço

o bobo da corte era rei no passado
e calado se curva a seu pleno dispor
ao por os pezinhos perfeitos imundos
num mundo que gira com cada passada

ela cabe sem brecha num abraço bem forte
e a morte se torna uma mera dormência
cadência de sons que surgem dos lábios
tão sábios que só dizem algo ao beijar

quinta-feira, 20 de maio de 2010

horror

como se este mundo não fosse nosso
desejamos voltar pra casa ou ir pra longe
brutos horrores cercam almas ordinárias
clamando a elas uma reação legítima

dificilmente natimortos sentem dor
seu puro sangue representa uma boa sorte
enquanto nós nem queremos deixar de ver
e sorrir pela verdade que nos foi privada

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Série Velhos Poemas: POEMAS INTERMEDIÁRIOS

carta pálida de um qualquer ou simplesmente a sua lamentação

pelos becos alguém brilha
segurando uma vela

acesa

quem enxerga se atira
abraçando sua fera

com frieza

e tristeza



embora

embora você não suma
existem mil maneiras
embora eu só use uma
de falar asneiras

e dizer adeus



dores e cores

primeiro as cores
depois as dores

e os versos



os ossos

tudo o que tenho são olhos reumáticos
que nada querem ver além de esqueletos
projetando-se para fora de um mesmo corpo

banhados de desilusão e cólera
nem mesmo sabem do que ou o que são
ossos



aqui e agora

o aqui é tão lá
quanto o agora

a velha lambia
as ramificações



por alguém

pelos que temem eu digo sim
pelos que choram eu digo sempre
segredos têm a força própria
da autodestruição

pelos que rezam eu digo amém
pelos que amam eu me calo
por alguém



sapatos

arrastamos os pés descalços
sobre o teto
pois não há sapatos que nos levem
ao mesmo chão



vez

o gosto da ansiedade me vem à tona
pela última vez

pela última vez ele se torna amargo
e pela primeira vez eu me acostumo



pós-perfeição

eu penso na perfeição
e nas leis que ela destruiu
no quanto maiores os significados se tornaram
e na raridade atual das boas atitudes

uma bela noite não nos cerraria os olhos
um rosto feio não se manteria entre nada
e o nada se sobressairia



a história do poema sem fim

era uma vez uma poesia
que não chorava
nem sorria

era uma vez um começo
que não tinha fim
nem começo

sexta-feira, 7 de maio de 2010

essa história de igualdade

uma prateleira branca
com cinza escuro perfumado
enfeitada com luzinhas
tão pequenas quanto a casa
que esconde um ser feliz
por ser tão bonito assim
por não ter doenças graves
e por morar com suas flores
coloridas no jardim
que esconde em sua terra
o corpo sujo de alguém
que pagou por tudo isso

quinta-feira, 29 de abril de 2010

maravilha

sobe e desce, come e bebe
um chá dinâmico e pontual
sentada à mesa de uma lebre
não convém ser tão normal

sobrevivente da inundação
de suas lágrimas gigantescas
salvou um porco bem chorão
da maldade de uma duquesa

em um jogo diferente
as cabeças corriam risco
mas seu amigo sorridente
escapou de modo arisco

de repente se deu conta
de toda aquela engenhoca
mas um coelho disse "tonta"
e foi pra dentro de sua toca

sexta-feira, 23 de abril de 2010

o escritório

comédia da vida pública
sem escolha, obrigada,
jogada, arruinada, desgraçada
engraçada só pra quem vê
a sorte grande é o menor prazer
um acerto entre o caos da folia
a falta de sentido, comprimido
sufocado, tiro pra todo lado
determinado a não crescer
empurrado ao sol nascer
sempre em frente, nunca tente
o diferente sempre mente
e quem sente ri pra não morrer

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DIÁLOGO XII

"ARE YOU TALKING TO ME?"

Sempre gostei de filmes. Porém, de uns meses pra cá, acho que este gosto tem se transformado numa paixão. É certo que praticamente todo mundo assiste filmes, mas destes, somente alguns gostam de discutir sobre eles, e destes, somente alguns sabem o que estão dizendo. É certo também que só sabem discutir sobre filmes aqueles que assistem o maior número possível destes, e de qualidade.


Digo isto porque não adianta você assistir trezentos dramalhões estilo Sete Vidas, quinhentas paródias ao nível de Todo Mundo em Pânico e mil filmes de ação com o Steve Segal pra dizer que assistiu muitos filmes e, por isso, sabe discutir sobre eles. É preciso assistir muitos filmes, sim, mas filmes que mostrem porque o cinema é uma arte antes de ser uma indústria. Dentre estes, os considerados clássicos são insuperáveis.

Eu já tive muita resistência em assistir este tipo de filme, mesmo quando meu gosto por cinema já se transformava em paixão. Antes mesmo de assistir obras-primas como O Poderoso Chefão e Casablanca, eu já os achava chatos, enfadonhos, monótonos, enfim, tudo o que um bom preconceito diz servir de argumento contra algo. Mas, quando meu interesse por cinema atingiu uma maturidade que não se satisfazia mais com o conforto da identificação com o meu tempo projetado na grande tela, aventurei-me por tempos passados, até remotos, sendo aí onde e quando o cinema me afetou da melhor forma.

Já virou um clichê pseudo-intelectual dizer que os melhores filmes são os antigos. Claro que não podemos generalizar nada neste mundo, até porque só podemos falar do que conhecemos. E é por isso mesmo que eu digo: os melhores filmes são os antigos! Seja pela forma madura de contar histórias, mesmo aquelas voltadas para o público infanto-juvenil; seja pelo tipo de mensagem despretenciosa e confiante no poder de reflexão do público que as recebe, sem precisar se escrachar em verborragias quando se pode usar apenas imagens; seja pelos diálogos extremamente necessários para os rumos das ações, sem apenas narrá-las e serem conduzidos por elas; seja pela sincera preocupação em fazer arte, ousando por necessidade criativa e não por destaque.

É uma experiência mágica perceber de onde os melhores diretores da atualidade tiraram sua maneira de fazer filmes, ou seja, conhecer o mestre do seu mestre. Isto aconteceu comigo particularmente quando eu assisti aos faroestes que compunham a chamada "trilogia dos dólares" de Sergio Leone, a saber: Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito. Foi aí que eu percebi de cara a influência destas películas em Quentin Tarantino, considerado por mim um dos maiores diretores/roteiristas de cinema ainda vivo.

Enfim, minha intenção aqui não é fazer uma apologia aos clássicos do cinema - mesmo já o tendo feito -, mas sim expressar minha paixão pela sétima arte e mais ainda pela arte em geral (já falei que o amor da minha vida é a música?). Só pra não dizer que eu não valorizo o cinema contemporâneo, aqui vão alguns exemplos de ótimos filmes produzidos em nossa época: Dogville (Lars von Trier, 2003), Onde os Fracos Não Têm Vez (Joel e Ethan Coen, 2007), Os Bons Companheiros (Martin Scosese, 1990), Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009), O Lutador (Darren Aronofsky, 2008), Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002), Abril Despedaçado (Walter Salles, 2001), dentre outros...

Antes de finalizar, gostaria de deixar aqui o nome de quatro diretores que eu considero os melhores dentre os que eu conheço razoavelmente o trabalho: Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, Sergio Leone e Martin Scosese. Agora sim, pra finalizar, deixo aqui meu Top 10 Melhores Filmes, que levei meses pra fazer. Já postei essa lista em meu flog (http://fotolog.com/quase_quasimodo), mas de uns dias pra cá pensei em algumas revisões, que sempre vão ter à medida que eu for assistindo mais filmes, ou seja, não sei até quando esta lista vai valer do jeito que ela se encontra aqui!

01. O Exorcista (William Friedkin, 1973)
02. Tempos Modernos (Charles Chaplin, 1936)
03. Três Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966)
04. 2001: Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick,1968)
05. Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994)
06. O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 1972)
07. Era uma Vez na América (Sergio Leone, 1984)
08. Metrópolis (Fritz Lang, 1927)
09. Casablanca (Michael Curtiz, 1942)
10. Noite dos Mortos-Vivos (George Romero, 1968)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

casa imunda

as migalhas sujam o alpendre
e o cocô macha as paredes
entre elas há duas redes
cujos donos não se tocam

nem palavras eles trocam
desde não se sabe quando
e as aves vêm voando
pra buscar seu alimento

miolos brancos no cimento
e mal comem, já descomem
melando toda a casa do homem
deixando só um clima hostil

quinta-feira, 1 de abril de 2010

cidade estranha

um amor nunca foi tão parte
desta vida e seu grande preço
ativa e cativa como toda arte
a favor do mundo e seu tropeço

a indiferença pode até servir
pra se manter sem ameaças
mas o acaso poderá pedir
uma decisão que lhe dê asas

em meio à guerra há um oasis
de liberdade em outra pessoa
pois a vida tem suas fases
até pra quem só vive à toa

a casa deles estava longe
mas ali encontraram um lar
pois sentimento não vê onde
só vê quando pode se dar