sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

então é natal

o primeiro nem sempre é vencedor
terceira mesma linda inutilidade

mas vale a intenção não direcionada
também vale o reencontro por si só

e ainda tudo antes do fim.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

não aceito comentários de revolta

em volta do meu corpo, só encontro estranhamento
e a quilômetros de casa, já me sinto em minha cama
é a ânsia pela certeza de que nada vai acontecer
me puxa para o mesmo e me droga com conforto

nada melhor que a estabilidade para nos fazer voltar
novidades passam longe e, quando perto, passam logo
impossível evitar uma alegria maior que uma esperança
enquanto isso, ouço apelos de revolta que nada me dizem

todas as vozes são engolidas pela grandeza do nada
e eu somente tenho que agradecer à imensidão real
por resistir implacável ao comércio de promessas
"melhor, novo e diferente" não me tocam nunca mais

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Série Velhos Poemas: PANO QUENTE

de manhã, falo baixo
pano quente, mas relaxo
mordo macio, que arrepio

separo os pães, liso café
balança a mesa, tenha fé
sopro fino, calafrio

reina soberana.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

somente sambo

penso pequeno agora
sorrio comendo amora
escorado num pé de jambo
vendo um filme do rambo

eu não sou gato, não me lambo
sou brasileiro, somente sambo
quem ama nunca chora
já eu, vou logo embora

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

canto algum

a beleza me enoja
desprezo sonhos reais
vomito sobre os lençois
que cobrem um amor verdadeiro
e descubro por conta própria
a validade de um infeliz

a perfeição existe
nas melhores famílias
mas não o deveria
em canto algum

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

22

mais um, menos um
novamente, derradeiro
para sempre, nunca mais
quem sabe, vai saber
vai...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

quentchura

pressiona-me um peso invisível
mas "sentível" na medida em que me esmaga
há tempos planejo jogá-lo fora
porém só cresce e parece cobrar postura

até Quentchura no seu jeito louco me faz inveja
quem me dera agradecer a deus por todas as músicas
ouvidas e dançadas ao som do que não importa
ao som dos devaneios e despenteios
do álcool, do sábado e da felicidade

e pensar que "só dá vocês"
na mais pura e louca forma de se entregar

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

renovar

o presente não dá brecha para as idéias novatas
pra criar e transformar, é preciso mais que hoje
uma noite de euforia não abafa todo o grito
e toda face de alegria sempre tem que ser mostrada

a espera se arrasta pelo chão de cada hora
no momento oportuno não há mais faísca viva
e o terreno devoluto faz de conta que é sem fim
só pro sonho não abraçar a realidade e ser feliz

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

DIÁLOGO VII

PARA NÃO MAIS RECLAMAR

por mais que, no pior lugar e na pior hora, as coisas resolvam dar errado, alguma coisa de bom e maior ainda resiste. talvez as coisas dêem errado porque é minha sina de mazela que sempre chama o veneno do azar nas horas mais específicas. e talvez ainda resista algo de bom e maior porque eu existo mais que o erro.
quem diz que a vida sem dificuldades não tem graça, provavelmente não está cansado delas... eu já cansei e descansei, estou no caminho da conformação.
e no fim das contas, ainda resta o pensamento jovem e tolo de que por mais que eu fuja dos empencilhos, fujo correndo para frente. quem sabe correndo eu não pego uma rajada de vento e me ponho a voar...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

momento

a névoa já passou e meu olhar tudo vê
uma figura dança e me arrasta sem cair
o sentimento cobra o tempo de negligência
não há lugar nem pessoa e nem limite
o tudo e o nada se apresentam como felicidade
o ser abraça a essência e logo não tem razão
as cores se unem para formar a realidade
ao som da vida o suspiro é um só e eterno
a névoa já passou e minha alma tudo sente

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

o diabo é feio e mentiroso

lá se vai ela fugindo do meu abraço
só assim faço carreira e não me atraso
tanjo o boi um pouco mais e abro espaço
pra receber o que vier do meu acaso

manhã na cerca, novamente espio ela
esqueço o leite já fervendo na panela
mastigo um mato e me escoro na janela
e nem reparo que carregam minha chinela

seu pretendente vem chegando da cidade
o diabo é feio e ainda mente a própria idade
diz pra ela que seu amor é de verdade
traz na caixinha uma bela raridade

não tenho nada nem pra ela e nem pra mim
só dois pães que comprei no botequim
pelo jeito que se engraçam, disse "sim"
vou descalço pro barraco, cuspo o mato, e fim

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ex-insistência

sem confidência pra quem não quer ouvir
nem sentir o que tem a dizer para alguém
pois ninguém nesta vida querida e sofrida
valida a aparência que esconde a essência

acontece que o mundo real não tem chão
nenhum pão é doado sem estar amassado
e ao lado da dor nunca basta um carinho
o caminho carece de quem não o esquece

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

além do fim

viagem não concreta
numa estrada tão sem reta
que não dá pra lançar seta
pois não tem o que acertar

meu caminho não tem meta
minha fala é inquieta
e a vontade é incompleta
pois não sabe onde vai dar

minha alma é de atleta
não precisa bicicleta
quando a vida me alerta
que não tem por que parar

fim do mundo não me afeta
a liberdade é mais esperta
e a saudade só aperta
quando sei que vou chegar

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

no mundo de siba

energia comprensada nos sonhos do cochilo
não explode a cabeça, pois prefere o coração
que por nada poder fazer, só bate mais fraco
no som do cavaco e ao compasso da razão

plenitude esquecida, pois na vida não há de se erguer
o chão foge do meu passo, e eu só não me esborracho
porque não tem onde cair

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Série Velhos Poemas: BÊNÇÃO

As aves tropeçam em nuvens
Os meus lábios degolam os seus
Os santos respiram pelos ouvidos
Os prédios cedem à gravidade

O Sol lança suas crias furiosas
A Lua se rende à nobreza do nada
E, do céu, escorre a extrema-unção
Com a água benta das chuvas

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

sem

uma eterna lembrança não diz muita coisa
um amor de verdade quer dizer muito menos

nada fala mais que o tropeço de cada dia
que sol após lua só tende a nunca permanecer
e desaparece antes mesmo de acontecer

não tem sentido nem razão de existir
não é poluído pelo amor humano
nem possuído pelos sentimenos mais nobres da vida

apenas não existe porque ninguém se importa
e só existe porque ninguém se importa

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

a-e-i-o-u

esse ar que leva o meu pensar
até lá e não volta para cá
é o mesmo que me faz chamar
o teu nome até me cansar

quem vê o que tem que fazer
deve ser quem não tem prazer
pois não faz o que há de querer
e nem quer o que tanto vê

senti que não tem pra onde ir
e menti mesmo quando saí
pra vir só quando descobrir
que não tem nem mais onde cair

de uma flor faço o meu amor
e te dou pra sarar tua dor
com meu frio escondo o teu calor
que pra flor deu uma nova cor

esse dia é para eu e tu
e o sol revela algo incomum
nas curvas do teu corpo nu
e nos versos a-e-i-o-u

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

azáfama

corre-corre, que pé doido
sempre dá tudo a perder
confusão, só mais que oito
sem ficar com o que é pra ter

a gargalhada dá o gás
pro fermento dessa pressa
atrapalha mais que faz
um trabalho bom a bessa

e no fim já não se cansa
de olho aberto nada vê
só a sombra da esperança
que insiste em aparecer

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

marina só queria fazer parte do mundo gay

chorou a desatina
tomou uma aspirina
pra festa continuar

então olhou pra cima
pedindo aquele clima
pro amor se revelar

olhou praquela mina
tomou anfetamina
pra saber como chegar

escorregou na vasilina
bateu queixo na quina
e começou a chorar

o cérebro de marina
escorreu pela narina
até não poder pensar

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

tudo por um pouco de diversão

quando está tudo bem
quando sabemos o que vem
nada assusta, nem ninguém
tudo custa, e ela também

quando está tudo mal
quando não há nem mais degrau
tudo alerta e não é igual
nada espera, nem carnaval

sendo assim, eu quero, pois
comer espinho, e não arroz
deixo o carinho pra depois
que caia o céu bem em nós dois

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

DIÁLOGO VI

A PALAVRA "AZAR"

recentemente, eu comprei uma câmera digital. ela grava vídeos com áudio e serve também como webcam. por isso, escolhi a dedo a câmera que eu queria: com tais funções e com um preço que não estourasse os meus bolsos!
pois bem... eis que a bendita câmera veio com uns botões defeituosos. nada que comprometa o funcionamento básico da câmera, dá para se fazer tudo com ela. porém, o cliente merece um produto novo que esteja funcionando 100%, é ou não é?
lá fui eu reclamar no dia seguinte sobre a câmera com defeito. só tinha mais uma daquele modelo na loja, que para o meu azar também estava com defeito! e ainda mais defeito do que a minha: nessa, nenhum dos botões funcionava!
eles ficaram de encomendar mais câmeras daquele modelo com urgência, e estabeleceram um prazo de no máximo cinco dias para me ligarem dizendo que eu poderia buscar a nova máquina.
cinco dias se passaram e nada... no sexto dia, eu fui na loja pela segunda vez (terceira, se contarmos com a vez que eu fui comprar). dessa vez, falei com o sub-gerente, que parecia nem saber do meu caso, mas tratou logo de providenciar a transferência do produto de uma outra loja para aquela. me garantiu que no dia seguinte a câmera nova estaria na loja, e que ele iria me ligar assim que ela chegasse - até anotou isso na agenda dele.

no dia seguinte, nada de telefonema. fui eu pela terceira ou quarta vez na loja (dependendo do referencial de contagem) reclamar sobre a minha câmera com defeito. falei novamente com o sub-gerente e ele fez um telefonema. depois de desligar, começou me explicando - como da primeira vez que falei com ele - com um "é o seguinte...". e falou que não sei quem só tinha ligado para não sei outro quem de noite, e que a loja que faria a transferência da minha câmera nova para aquela loja já tinha fechado àquela hora. depois de perceber a minha cara de indignação, concluiu com um "é foda...". mas garantiu pela segunda vez que no dia seguinte a câmera nova estaria ali por volta de uma ou duas horas da tarde.
pois bem, no dia seguinte, ou seja, hoje, por volta das duas da tarde, lá estava eu pela quarta ou quinta vez na loja - como preferirem -, para obter a bendita a minha bendita câmera nova. cadê o sub-gerente? uma funcionária da loja - cuja eu fiz a questão de pegar o nome - me informou que ele estava no médico e ela não sabia que horas ele iria chegar, se é que o maldito iria chegar... como uma aparente boa funcionária, ela anotou o número do meu pedido e avisou que se comprometeria com o meu caso. anotou também os meus telefones para me ligar assim que o produto chegasse. vou lá amanhã de novo, ela ligando ou não!
coisas desse tipo só me fazem pensar cada vez mais no azar que eu tenho para tratar desses assuntos burocráticos. faço tudo direitinho, como previsto, mas SEMPRE e especialmente no MEU caso, as coisas insistem em dar errado. será que aquele boato sobre o simples fato de dizer a palavra "azar" já traria o maldito para a vida do linguarudo é realmente verdade?
bem, enquanto isso eu vou me tornando o mais novo inquilino do shopping iguatemi.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

sobre lá

o cheiro firme de cimento me alerta sobre o dia
a terra é firme e suja como o resto tem que ser
folhas secas dando gritos quando quebram ao padecer
o arrepio daquele rio também faz com que ela ria

dali não movo um pé e eu nem mesmo queria
a noite é sem mistério e eu ando por andar
a estrada esburacada só me faz querer dançar
tudo é sempre igual mas nada mais eu pediria

sexta-feira, 18 de julho de 2008

asfalto em pó

o passo firme de um covarde em sua dor
afunda a terra de asfalto ainda em pó
não há mordida que provoque tanta dor
quanto o peso que carrega estando só

pra ficar encolhidinho no cantinho
basta teto e almofada pra sentar
esconde a cara de vergonha do vizinho
que deixa a luz entrar em forma de luar

suja o corpo, vai e perde feio
quebra a cara e não deixa de errar
pisa em lama e se joga pra escanteio
só assim tu aprende o que é amar

quinta-feira, 10 de julho de 2008

um brinde de corpo fechado

aquela frase solta
somente dita e louca
tenta voar pois nada quer dizer

e talvez quando se perder
do outro lado em outra boca
se faça até de mouca
pra não ter o que aprender

vazia de sentido
lotada de grunido
só vai e não vem

quinta-feira, 3 de julho de 2008

o medíocre causo de josé e sua estúpida ingenuidade

josé abriu a porta
chorando igual criança
com a força que restava
de um fio de esperança

seu amigo e sua noiva
entraram preocupados
perguntando sobre o choro
e por que foram convidados

"eu chamei os dois aqui
para me justificar
incidentes acontecem
mais aqui do que acolá

eu sei que a confiança
do amigo não é forte
e da noiva eu já perdi
tão mazela é minha sorte

por isto, a minha pressa
de falar com os dois agora
compromissos diferentes
marquei no mesmo dia e hora

reconheço os vários erros
tantas vezes cometidos
já deixei amigo e noiva
de corações demais partidos

eis então, minha agonia
logo após eu perceber
que uma ou outra relação
com certeza ia perder

comparecendo a um encontro
salvaria a amizade
mas não teria casamento
na igreja da cidade

encontrando com a noiva
garantiria uma parceira
mas o bar sem o amigo
se tornaria uma besteira

tendo em vista tal problema
recorro à vossa compaixão
peço aos dois que falem a sós
e resolvam minha situação

decidam em tal conversa
qual dos dois devo encontrar
garanto o outro compromisso
com nova data e lugar"

e assim foi dito e feito
amigo e noiva enfim toparam
conversar sobre o assunto
em um quarto que fecharam

uma hora decorreu
e os dois então sairam
josé mais do que aflito
perguntou o que decidiram

seu amigo e sua noiva
se entreolharam receiosos
disseram-lhe uma resposta
que doeu até nos ossos

"falamos muito de você
e do seu novo dilema
concordamos um com o outro
que você é o problema

isso durou só um minuto
mas passamos um belo tempo
conversando sobre a vida
e sobre aquele tal momento

nos conhecemos bem melhor
deu até pra se beijar
de você já esquemos
decidimos nos casar"

olha só, mas que azar
reunindo os dois ali
josé não esperava
que se engraçassem entre si

evitando perder um
perdeu logo foi os dois
e ainda, um pro outro
a vaca foi levando o boi

ele então ficou parado
observando os dois passando
de mãos dadas pela porta
que josé fechou chorando

quinta-feira, 26 de junho de 2008

eterno e mais perto do fim

espera criada e então destruída
ativa e passiva enquanto faltar
sonhar não tem mesmo o mesmo valor
do amor que espera e se faz esperar

mas deixe estar, é preciso viver
somente querer nunca foi o bastante
pro instante sonhado de tal completude
que ilude essa alma ainda restante

avante no mesmo local e momento
tão lento que o próprio reclama de si
pra ir e só vir quando mais relaxado
e então preparado pra não mais fugir

quinta-feira, 19 de junho de 2008

anima

afeto desprendido
me joga para lá
traiçoeiro e atrevido
me tira o meu pensar

desespero inconsciente
que grita sua existência
amor independente
não enxerga conseqüência

alma, vida e meus temores
dão sentido ao eu complexo
mesmo tão superiores
à razão e ao próprio nexo

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Série Velhos Poemas: O PESAR DE DUAS ALMAS

Amarrem-nos abraçados em uma só malha
Recordando o anseio pudico de certa falha
No alcance do céu vermelho como sempre farão

Até que nos separe o sobrenatural
Calará a seca boca de todo banal
Emergindo-nos do mais profundo ato de cantar

Pelo menos que se ligue à realidade
Nem que somente por um fio de vontade
Daquele antes ímpeto da salvação

Resumidos ao mero cálice da mesa farta
Como falso amor que se revela em doce carta
Uniremos-nos ao maior em pleno ato de pairar

Aqui se havia fechado o mesmo ciclo
Que já servia de fardo para nosso filho
Sem que houvesse dúvida de seu perdão

Só nos resta repousar sobre pálida mente
Deitados sobre santos jazidos tão somente
Sem sequer possuir o livre ato de sonhar

De certa forma que apreenda as suas calmas
Julgando assim o pesar das minhas almas
Perde-se tudo o que existe até então

Apeguemo-nos a tal eterna orgia
Que nos agrega sem nem mesmo um sal de folia
E nos resguarda do simples ato de amar

quinta-feira, 5 de junho de 2008

yo-yo

dentro desse vai-vem
pensamento muito louco
isso tudo não é pouco
pra quem sabe o que não tem

mas pra não perder gingado
faço tudo atropelado
levo fama de safado
vou de lado e volto sem

dentro desse vai-vem
vou e volto pra ninguém
vou e volto sem ninguém
dentro desse vai-vem

sexta-feira, 30 de maio de 2008

desculpa esfarrapada para os caros companheiros

peço aqui o meu perdão
ontem era o grande dia
mas preferi a diversão
do que esta fantasia

se pudesse eu faria
sexta e quinta serem iguais
assim não perderia
comentários pontuais

cá estou angustiado
mas cumprindo meu dever
é que cidadão instigado
não ousaria eu perder

sexta-feira, 23 de maio de 2008

arranque meus olhos e os coloque no lugar dos seus

senti-me estranho, e daí que vi
um homem de cabeça para baixo
incapaz de evitar, pus-me a rir
"mas só pode estar louco, eu acho"

tolos pés a fim de pisar o céu
mãos imundas obrigadas a tocar o chão
indaguei-o se era a Torre de Babel
me disse "posso ser ou não"

de repente, virou em cambalhota
seus pés firmes no concreto
pensei "meu deus, mas que lorota"
mãos pro ar atrás de um teto

notei então um peso forte
meu ar de elegância se perdeu
pro meu azar ou minha sorte
de ponta-cabeça estava eu

quinta-feira, 15 de maio de 2008

pathos

ainda posso enganar a larva estranha
da entranha não passa e nem chega a lutar
câncer de alma, cárcere da calma
estanca e arranca mas não tenta matar

cada dia e cada ação registro em meu relato
seu contato não carrega nem segredo a revelar
tumor na mente, fedor de gente
seu ato consumado só espera o descansar

sexta-feira, 9 de maio de 2008

mudo cá

dava noite e dava dia
esquentava e chovia
e eu ainda não sabia
o que tinha que falar

galopando pelos canto
apelando pra todo santo
tô caçando algum recanto
pra módi poder ficar

meu cavalo relinchando
aquele galo já cantando
os urubu me arrodeando
e eu parado e mudo cá

tá me esperando na janela
espia só que coisa bela
mas como eu sou muito fela
dá preguiça de ir pra lá

quinta-feira, 1 de maio de 2008

DIÁLOGO V

SÓ PRA DIZER QUE NO CÉU AINDA TEM LUZ

seria engraçado, se não fosse trágico, o modo como nos revelamos a nós mesmos. claro que se mostrar ao outro é totalmente constrangedor e desrespeitoso com relação a quem mostra e a quem vê - isso porque quem mostra também vê e vice-versa -, mas saber sobre si mesmo é uma tarefa puramente verdadeira, e nada é mais escrachante e dilacerador do que a verdade.
talvez devido à estupidez e covardia humana, ou talvez devido à genialidade de sua auto-proteção, quando isso acontece uma vez, o rompimento que se origina cicatriza. é preciso haver numerosas puras verdades a serem não somente ditas, mas mostradas, esfregadas no rosto do ser para que este a aceite em toda sua força e derrota.
a verdade sobre si nada mais é do que o que sempre esteve, mas ninguém quer enxergar, por medo ou presunção.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

nem todo mundo, marisa

eu resisto à tentação
mesmo sem querer
minha natureza é traição
não sei bem porquê

pelo menos me ajudo
não nego meu limite
após saber que tudo
não passa de um palpite

quinta-feira, 10 de abril de 2008

pareceria que foi ontem se não tivesse sido hoje

estava tentando e errando
testando um fórmula pra mergulhar
num cá ou lá que buraco nenhum engole

não tome liberdade pra me entreter
pois querendo ou não a gente sente
a bela ou a fera dos sonhos apagados

por enquanto num manto se esconde
uma luz pequenina que ninguém vê
todo mundo procura o que se basta esperar

sexta-feira, 4 de abril de 2008

quase-ninguém-quase-nunca-agora-relaxado

por quase ninguém agora atendo
nem ninguém sou por inteiro
na mesma tecla vou batendo
sou quem nunca vem primeiro

quase nunca sou agora
porém, agora o sou
sou um quase-nunca-agora
não me chame, pois não vou

eu sou quem não me acho
sempre triste e tão fechado
tanto tempo e não reajo
sou portanto, relaxado

apresentei minha pessoa
de uma forma tão perfeita
que ninguém mais se afeiçoa
por mim e minha desfeita

sexta-feira, 28 de março de 2008

árvore

guardo minhas coisas em um lugar
um cantinho onde ninguém vai procurar

não faço mais desdém do meu viver
a manhã me chama e não quero me esconder

um novo dia não escolhe a quais olhos abrir
a serenidade não informa o que devo sentir

guardo minhas coisas em um lugar
que só eu sei quando e onde existirá

sexta-feira, 21 de março de 2008

o monstro que se esconde atrás dos sonhos

impossível de ser mais
só se a tosca pertinência
desse as caras de uma vez
por todas, por e para todos nós

vem pra corroer a situação
esse estado último de desejo
quebrando a nossa luz e a do sol
apressando o seu pôr e nossa deixa

eu deixo
mas não devia.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Série Velhos Poemas: VERSUS AMOR

Apesar de minha fuga, lacrada com véu de couro,
Nada se evidencia mais do que minha justa fobia
Embora siga farsante e risonho pelo mesmo caminho
Onde não se permitem maiores traduções

Caminho este, forrado por puras e belas flores
Mas um cravo sem raiz nem controle as esqueceu
No relento do vento que não via volta – para si mesmo
Nem ida debaixo das nuvens

Guardado a quantas chaves houver – não importa
Nem mesmo por engano consigo uma salvação
Enquanto os pés, desde sempre, enterrados por metais
Não tão preciosos quanto as aves do finalmente

Coração pintado a gesso pelas próprias mãos;
De outros, recebendo incessantes marteladas
Sem quebrar...

sexta-feira, 7 de março de 2008

o que vem de novo

tenho furos nas mãos e no papo
me foge qualquer espécie de contato
pago o pato, estou fadado

a ser o todo e sempre famoso
fugaz por excelência

entra gato, sai sapato
morfado e tão safado
de fato!

não sabe o que é um tato
e nunca aprende a eclodir

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

DIÁLOGO IV

AGARRE A BOLA

chega uma hora que não dá mais. mesmo que nos esquivemos de todas as formas possíveis, acabamos sendo obrigados a nos despir frente a estranhos que nos cobram discreta e incansavelmente algum sinal de verdade. corpos antes vistos como sempre nus, se revelam tão duros e recheados de vida que enganam qualquer um que também o seja. isso é um tapa na cara de quem não olha para além do espelho.
o outro também sou eu quando muda a perspectiva, porém a estada em si é tão inimaginavelmente grande que impede ou ao menos esconde a capacidade de se enxergar propriamente tão real quanto o que se enxerga nos outros em momentos como este.
pior que saber a verdade é saber que qualquer um pode também sabê-la e que, na verdade, ela não existe.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

um suspiro otimista

andar, nadar, correr cansa
só é bom pra ser feliz
pular que nem palhaço
sem cadaço pra pisar

o mundo é grande lá fora
e cá dentro também
mas tão chato ele é
que só sede me dá

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

zumbi

nenhuma voz reclama nem clama
por um dia comum por demais
me chama pra cama, me ama na lama
mantenha não um, mas dois pés atrás

é hora de se esconder
meter-se na grave
mania de errar

avante e distante
de todo para sempre
amém.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

em minhas mãos

não posso cuidar
te devolvo quebrado
incapaz de colar

não deixo guardar
me envolvo cansado
incapaz de tentar

não posso ir nem voltar
incapaz de mover
um olho sequer

pra te enxergar

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

belo dia

belo dia para se dizer asneiras
passageiras, mensageiras, besteiras

a lua se retira e deixa núvens
rubras de vergonha ou falta dela

na cara.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Série Velhos Poemas: (DES)ILUSÃO

Destas tumbas por que passeio, acima moram clones,
Petrificando-me os pensamentos, que decerto afundam-se
N’última e primeira luz, cujo pó, deveras, não hei de tocar.

Ambicionava eu – e dentre fogos e folias – fugir-me
Pr´onde pudesse-ia ignorar ou aviltar, com pisos de cólera,
Putrefata terra onde se jazeria a Lei dos Homens.

Semelhante anseio que alimenta presente escritura
Possui-me – e de tamanho gosto – que declaro desistência,
N’outrora incogitável e pior medo, vê-se agora solução.

Defronte à queda de áspero pano, minh’alma grita!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

amor

vejo o amor
nas besteiras da morte
e da vida que for

ele não é grande
ele não é forte

ele é pequeno e frágil
como aqueles que amam

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

vá devagar

nos meus sonhos
algo tenta ser real
porém me enganam
me jogam pro despertar

num trem...

tudo existe
se estiver em mim
tanto quanto
eu puder tocar.