sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

DIÁLOGO IV

AGARRE A BOLA

chega uma hora que não dá mais. mesmo que nos esquivemos de todas as formas possíveis, acabamos sendo obrigados a nos despir frente a estranhos que nos cobram discreta e incansavelmente algum sinal de verdade. corpos antes vistos como sempre nus, se revelam tão duros e recheados de vida que enganam qualquer um que também o seja. isso é um tapa na cara de quem não olha para além do espelho.
o outro também sou eu quando muda a perspectiva, porém a estada em si é tão inimaginavelmente grande que impede ou ao menos esconde a capacidade de se enxergar propriamente tão real quanto o que se enxerga nos outros em momentos como este.
pior que saber a verdade é saber que qualquer um pode também sabê-la e que, na verdade, ela não existe.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

um suspiro otimista

andar, nadar, correr cansa
só é bom pra ser feliz
pular que nem palhaço
sem cadaço pra pisar

o mundo é grande lá fora
e cá dentro também
mas tão chato ele é
que só sede me dá

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

zumbi

nenhuma voz reclama nem clama
por um dia comum por demais
me chama pra cama, me ama na lama
mantenha não um, mas dois pés atrás

é hora de se esconder
meter-se na grave
mania de errar

avante e distante
de todo para sempre
amém.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

em minhas mãos

não posso cuidar
te devolvo quebrado
incapaz de colar

não deixo guardar
me envolvo cansado
incapaz de tentar

não posso ir nem voltar
incapaz de mover
um olho sequer

pra te enxergar

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

belo dia

belo dia para se dizer asneiras
passageiras, mensageiras, besteiras

a lua se retira e deixa núvens
rubras de vergonha ou falta dela

na cara.