quinta-feira, 23 de setembro de 2010

o ruinzão

furto um boneco de pano
acerto um prego no cano
e mato aquele que disse
que sou o fuleiro do ano

maltrato um fofo bichano
jogo o moleque do insano
e esfolo aquele que disse
que sou o safado praiano

engano um cego fulano
desfaço o perfeito plano
e bato naquele que disse
que sou o lunático urbano

transformo sagrado em profano
fresco com uma orelha de abano
e esmago aquele que disse
que sou o pior ser humano

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

o breque de um nômade

meu desejo
não despejo
quero beijo
e bocejar

minha fala
nunca cala
pego mala
a calejar

meu afoito
só dá coito
quero oito
pra açoitar

meu fatigo
tá contigo
e o castigo
é mendigar

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

7º CONTO

PRIMEIRO CONTO

Até algum tempo atrás, eu achava que uma das minhas melhores qualidades era a de ser capaz de manter minhas emoções controladas, dentro de um limite especificado da maneira que eu bem entendesse. Nunca tivera impactos psicológicos devido a situações inesperadas, mentiras descobertas, desilusões amorosas. Sempre mantivera os pés no chão, até certo dia.

Noite de sábado e estava eu pronto para ir a uma festa de despedida do colegial. Não só iriam estar lá todos os meus amigos, que por anos estudaram comigo, como também alguns convidados destes.

Estávamos no auge da festa e eu, mais do que nunca, sentia-me livre. Leonardo, meu amigo desde o primário, chamou-me para apresentar-me uma prima dele que, por sinal, não se sentia muito à vontade com toda aquela gente desconhecida. Quando fomos apresentados, notei algo mais do que simples conveniência ou simpatia no olhar de Soraia. Olhava-me como se quem estivesse à sua frente fosse um alguém muito querido por ela, mas muito distante de qualquer espécie de carinho que este pudesse vir a manifestar a seu favor. Não era normal para mim, estar dentro de uma situação como aquela, na qual eu era quem menos se sentia desconfortável. Tão rápido quanto frio pareceu ser nosso comprimento, mas os olhares não enganavam nem ao mais duro dos corações humanos. Já bastara.

Passamos o resto da festa conversando sobre assuntos que eu nunca julgara serem os melhores para se tratar com garotas tão especiais. Mas Soraia tinha uma maneira tão surpreendente de fazer com que qualquer coisa fosse a única que realmente importasse em determinado momento, que eu não me sentia culpado por não querer fazer da situação algo especial, embora já o fosse por espontaneidade.

No final da festa, trocamos números de telefones e voltamos cada um para seu devido lugar. Despedidas sempre foram algo tão indiferentes a si mesmas que até eu tornava-me indiferente a elas. Mas dessa vez era algo que me incomodava, somente por não ser algo especial dentro daquele momento que parecia ser tão incomum e mágico. Antes de ir, Leonardo cochichou em meu ouvido alguma brincadeira como um “cuide bem da minha prima ou eu não me responsabilizarei por meus atos” e saiu sorrindo. Eu ri da brincadeira de meu amigo e ao mesmo tempo da situação ridícula na qual eu me encontrava. Não acreditava que estava tão à vontade com a presença de uma garota. Em todos os relacionamentos em que eu me envolvera, nunca houvera sentido tamanho sentimento de satisfação pelo simples fato de estar perto de alguém. Sentia que precisava me controlar.

No dia seguinte, estava cansado e decidido. Ligaria para Soraia e a conquistaria como tivera feito com todas as outras garotas com quem eu chegara um dia a querer me envolver, mas nunca a me apaixonar. Tão somente começaria como tão indiferentemente terminaria. E assim foi feito. Após duas semanas de saídas e diversões já premeditadas, eu e Soraya dávamos as mãos não só como simples amigos, mas como um casal. Perfeito, se não fosse pela minha ansiedade e provável remorso após livrar-me daquilo que mais fazia sentir-me importante e feliz: estar com ela.

Após todos os nossos encontros, já em minha casa – meu canto de liberdade para esvaziar meu coração de sentimentos tão puros quanto indesejados e de refúgio de uma realidade que eu não confessava ser a de meus sonhos –, eu relembrava cada frase, cada olhar e cada gesto, para fazer um pequeno levantamento das possibilidades de Soraia poder, um dia, vir a dar um fim em nosso relacionamento antes que eu mesmo o fizesse.

Com o passar do tempo, nossos encontros tornaram-se mais freqüentes, e a cada dia eu racionalizava meu possível abandono com mais preocupação do que precaução. Estava preocupado com o grau de intimidade a que nossa relação se sujeitava, embora fosse eu o principal causador de nossa maior aproximação. Eu não conseguia mais olhá-la com a mesma frieza de antes, nem tocá-la com a mesma mão “descompromissada” como das primeiras vezes. Já era tarde, estava apaixonado. Sentia-me culpado por guardar um sentimento tão lindo e complexo dentro de mim e não querer revelá-lo nem mesmo a quem o tinha plantado em meu coração. Não queria expor-me a tal vulgaridade, talvez por puro orgulho ou simples inexperiência.

Soraia era como a única estrela, além do próprio Sol, cuja luz iluminava minha mente e meu ser em plena semente da manhã. Já me cansavam as conformidades e seguranças do dia-a-dia, sem nem mesmo ter controle sobre nada que tivesse um broto de relevância ou simplesmente valesse a pena. Soraia era tudo e tão somente minha estrela da manhã.

Nunca tivera pensado tanto em alguém e em mim mesmo como naquela noite em que meu coração dissolvia-se em lágrimas de paixão. Finalmente percebi que, naquele momento, a melhor qualidade que qualquer ser humano que se considere livre possa ter é a de ser capaz de sentir. Não importa o quanto alguém possa resistir, nunca será o bastante para cobrir o tamanho infinito da tristeza, da alegria, do amor. Pela primeira vez, sentia-me humano de verdade. Era inevitável.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

mover

nova mente
novamente
movimento
devagar

nove mentes
nove mentem
momentâneo
relaxar