quinta-feira, 31 de março de 2011

DIÁLOGO XVI

MAIS UM ASSUNTO BESTA

Tem semanas que este tal de Blogs de Quinta realmente é um pé no saco, pois eu não tenho absolutamente nada de interessante para escrever. Como simplesmente deixar de postar está completamente fora de cogitação para mim, eu tenho que forçar algum assunto besta só para me ver livre deste compromisso por mais uma semana.

Sendo assim, o assunto besta de hoje é "coisas que eu estou pensando ultimamente". Vocês provavelmente devem estar pensando que esta é a pior maneira de eu me safar deste post, mas na verdade é preciso uma boa dose de generosidade para que eu fale sobre as coisas que atualmente me "atormentam" antes de dormir.

Devo salientar que a ordem da apresentação destes pensamentos não necessariamente refletem seus respectivos graus de importância na minha vida, pois eu não sairia do canto se ousasse definir tal seleção. Não esperem também que eu disserte sobre cada um deles, pois só citá-los já está em um nível bastante considerável de exposição pública da minha subjetividade.

Pois bem, o primeiro destes pensamentos que visitam minha mente em doses razoáveis de quantidade e duração é sobre a necessidade de arranjar um emprego, e com isso eu quero dizer a necessidade de ganhar dinheiro. Pouco me importa o tipo de trabalho, pois desde que não seja ilegal ou imoral, pode até engordar que eu topo, se pagar bem.

O segundo pensamento é sobre o curta-metragem que eu estou realizando juntamente com um amigo. Houve alguns dias de filmagens bem produtivos até agora, mas tivemos que dar um tempo por questões financeiras e por incompatibilidade na agenda de um dos atores. Porém, se tudo der certo, voltaremos a filmar na segunda metade de abril.

"Terceiramente", penso muito sobre um possível roteiro que eu venha a escrever. Já tentei produzi-lo uma vez, mas a idéia ainda estava imatura em minha mente, então resolvi parar e pensar mais sobre ela. Agora acho que essa idéia já está em um estágio de desenvolvimento e de qualidade avançado o bastante para eu me aventurar novamente em sua escrita.

Claro que há outros pensamentos que se apresentam com a mesma intensidade dos anteriormente citados, mas são de um determinado nível de intimidade que supera o meu grau de abertura neste momento. Acho muito difícil, mas espero fielmente que não tenha sido um saco e uma total perda de tempo para vocês a leitura deste post tão pessoal e que provavelmente não adiciona nada às vossas vidas. Obrigado pela paciência!

quinta-feira, 24 de março de 2011

de mansinho

ela chega de mansinho com voz rouca
coxixando em meu ouvido coisa pouca
quando tento lhe falar se faz de mouca
revelando que sua vida é muito louca

ela vai sem dar nenhuma explicação
destruindo o que restou de coração
nessa minha forma doida de paixão
que depois da despedida cai no chão

sábado, 19 de março de 2011

a van circunda

penoso pensar
é praia amanhã
será que vai dar
todos na van?

aqui ela existe
mas outros também
quem é que insiste
em algo além?

de novo o corcunda
circunda o letrado
mas ao ver uma bunda
se torna tarado!

sexta-feira, 11 de março de 2011

simplesmente irresistível

um sorriso inconfundível
tão sincero que assusta
e dá medo quando custa
minha chance de ir atrás

dessa vez não tanto faz
vou tocar aquela pele
mesmo que este ato sele
um destino tão maçante

pois eu sou tão inconstante
que depois não mais irei
dar minhas caras feito rei
voltando logo a ser um bobo

que uiva feito um lobo
ao vê-la mesmo séria
pois em toda sua matéria
é simplesmente irresistível

quinta-feira, 3 de março de 2011

9º CONTO

ELE E O TÉDIO

Com o olhar fixo no teto do ônibus, ele se indagava sobre como o garoto promissor da família tinha parado ali. Todo seu percurso por um caminho aparentemente inviolável agora só parecia um grande erro ou o completo oposto disso. Sentiu-se sufocado com a visão do sólido metal que encarava e procurou algo mais reconfortante com os olhos. Deparou-se com a escotilha do veículo entreaberta de forma que pudesse ter uma noção do céu que existia lá fora, enfeitado com nuvens que passavam dando-lhe a segurança de um constante movimento.

Movimento era o que precisava. Mesmo quando, em vão, forçava uma saída da rotina para tentar se sentir vivo como antes, percebia que sua alma não acompanhava o ritmo de seu corpo, mantendo-se intacta. Pensou que aquele momento no ônibus talvez fosse a última dessas inúteis tentativas de autoafirmação, depois da qual finalmente se entregaria por completo ao acaso e abriria mão da responsabilidade por si mesmo.

De repente, em meio a todo aquele barulho urbano, identificou um som curioso e insistente, que surpreendentemente não o incomodava como os outros. Virou o pescoço a fim de descobrir a origem daquele som e deparou-se com uma jovem moça que escutava algo no fone de ouvido e batia a mão na coxa levemente, mas forte o bastante para ele ouvir, provavelmente seguindo o ritmo da música que escutava. Após alguns segundos, a moça tirou os fones de ouvido e ele virou rapidamente o pescoço para frente.

Lembrou-se de um antigo filme francês em que o mocinho era o bandido, e percebeu que nem era preciso ter tantas qualidades assim para ser capaz de conquistar uma bela moça, violando qualquer moral que ainda procurasse um sentido naquele rosto ingênuo. Convencido deste pensamento, tornou a girar o pescoço a fim de procurar mais uma vez o maior descanso que sua vista já tivera. Achou. Ela agora encostava a cabeça no vidro da janela e mantinha os olhos fechados, provavelmente tendo sonhos que ele nunca iria decifrar.

Por falar em sonhos, pensou nos seus... Não havia algo mais distante naquele momento, e teve que forçar a memória para enxergar grande parte deles novamente. Nenhum parecia ainda fazer sentido, e foi então que percebeu a real gravidade da situação que construíra para si mesmo. Situação esta que talvez fosse a única que já existiu, pois nada além daquilo aparentava um dia ter feito parte da sua vida.

Estava tão perdido em seu devaneio que nem se deu conta de quando a jovem abriu os olhos e, depois de algum tempo olhando pela janela, foi ao seu encontro com a vista. Permaneceu estático como se a surpresa e a alegria fossem demasiadas fortes para ele reagir de alguma forma. Ela lhe esboçou um leve e sincero sorriso, voltando o pescoço à posição original logo em seguida. De alguma forma, aquele gesto o despertou para a realidade dela, da qual ele sabia que, durante alguns segundos, tinha feito parte.

Sem querer, deu de cara com o ambiente do lado de fora da janela na qual ela recostava a cabeça e percebeu que sua hora havia chegado. Era o fim da linha para ele. Automaticamente, levantou-se e deu sinal para o ônibus parar. A condução diminuía a velocidade enquanto ele caminhava em direção à porta, fazendo com que aquele instante de revelação ficasse cada vez mais longe e menos real. Desceu.


O ônibus ainda estava parado quando ele ficou de cara com a jovem pelo lado de fora da janela. Ela ainda estava com os olhos abertos, mas seu olhar estava longe. Ele torcia para que ela esboçasse alguma reação à sua presença, girando o pescoço ou ao menos o olhar em sua direção.

Foi então que a mesma força que o levantara do acento contra a sua vontade dessa vez agia de um modo que parecia lhe favorecer. Como um mero espectador, ele observava seu braço se levantar em direção a ela. Seu dedo chegou a tocá-la no cabelo no mesmo instante em que o ônibus deu partida. O braço caiu à posição original em sinal de desistência.

Sem mais nada à sua frente, ele pegou o MP4 do bolso e colocou os fones de ouvido. Caminhou os mesmos passos de volta para casa, ouvindo uma música que falava de dor, maturidade e compromisso.