quinta-feira, 28 de outubro de 2010

palhaço de folga

ele ria e dava cambalhotas
fazia graça mesmo sem querer
e com suas sombrancelhas tortas
tomava susto no espelho ao se ver

com sua ginga ele armava confusões
trapalhadas para lá de divertidas
e já sofrera trezentas contusões
mas tinha muito mais que sete vidas

mas um dia o palhaço se cansou
fazer graça não tinha mais sentido
foi tão cobrado duramente que surtou
tão sozinho, cabisbaixo e oprimido

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

a verdade sobre o galã matador

numa cidade tão pequena quanto escrota
morava um cabra mais valente que o cão
que namorava uma rapariga tão marota
que nem o padre quis ouvir sua confissão

eis que um dia pisou lá um forasteiro
que proferia ter matado mais que doze
com todo o ar de mocinho justiceiro
instigou o valentão a sair da pose

a rapariga no começo teve medo
de seu macho finalmente morrer nessa
mas mudou de torcida logo cedo
pois o galã lhe deu um trato bom a bessa

injuriado pelo chifre e a ameaça
o valentão tirou do cinto sua peixeira
e foi atrás de enfiar na sua caça
que quando viu aquilo fez carreira

sem entender o que tinha se passado
o macho então só matou a rapariga
se gabando por ter afugentado
mais um que se dizia bom de briga

após anos souberam da notícia
que o galã levara bala por comer
a noivinha de um membro da milícia
que não deixou o gaiato se escafeder

o foresteiro era só um come-e-some
que se passava de machão pra conseguir
esfolar todas as putas de renome
que o sertão já foi capaz de produzir

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

situação

meu paraíso escondido
é uma inércia ridícula
aos olhos de outrem

navego sobre ondas
de oportunidades
e nunca me afogo

inércia é movimento
movimento sem parar
navegando nunca só
mas só no mesmo mar

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

DIÁLOGO XIV

O DIA QUE NINGUÉM MORRE

Tenho pensado nas minhas atitudes e na falta delas. Tenho pensado que tudo poderia ser diferente se eu quisesse, mas eu insisto em não querer ou em querer de outro jeito. Isto é demasiado repetido em minha mente e em minha vida prática, onde essa é a palavra de ordem: repetição. Quando penso no que escrever, todas as idéias se convergem no mesmo grande assunto: solidão/acomodação. Isso me incomoda, embora possa viver bem assim. Eu procuro o mesmo, corro atrás do mesmo. O mesmo nunca me persegue, pois é parado por natureza. A culpa e o mérito por tudo isso são todos meus. O que me mata não é a falta de opção, não é a incapacidade de visualizar algo diferente, e sim a responsabilidade pela mesma escolha sempre, e sentir que ela é sempre certa. Eu posso fugir disso quando quiser, mas prefiro me manter aqui. Posso viver a diferença só na imaginação, e isto basta. Dói porque basta, dói porque não preciso de mais nada. E que venha mais nada.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

vida de herói passa voando

ele era cientista e fazia arte
era elogiado em toda parte
constuiu todo aquele baluarte
foi o primeiro a pisar em marte

"mas ele era tão alto e forte"
disse alguém após sua morte
que não foi só falta de sorte
quis dar amor e levou corte