quinta-feira, 31 de julho de 2008

sobre lá

o cheiro firme de cimento me alerta sobre o dia
a terra é firme e suja como o resto tem que ser
folhas secas dando gritos quando quebram ao padecer
o arrepio daquele rio também faz com que ela ria

dali não movo um pé e eu nem mesmo queria
a noite é sem mistério e eu ando por andar
a estrada esburacada só me faz querer dançar
tudo é sempre igual mas nada mais eu pediria

sexta-feira, 18 de julho de 2008

asfalto em pó

o passo firme de um covarde em sua dor
afunda a terra de asfalto ainda em pó
não há mordida que provoque tanta dor
quanto o peso que carrega estando só

pra ficar encolhidinho no cantinho
basta teto e almofada pra sentar
esconde a cara de vergonha do vizinho
que deixa a luz entrar em forma de luar

suja o corpo, vai e perde feio
quebra a cara e não deixa de errar
pisa em lama e se joga pra escanteio
só assim tu aprende o que é amar

quinta-feira, 10 de julho de 2008

um brinde de corpo fechado

aquela frase solta
somente dita e louca
tenta voar pois nada quer dizer

e talvez quando se perder
do outro lado em outra boca
se faça até de mouca
pra não ter o que aprender

vazia de sentido
lotada de grunido
só vai e não vem

quinta-feira, 3 de julho de 2008

o medíocre causo de josé e sua estúpida ingenuidade

josé abriu a porta
chorando igual criança
com a força que restava
de um fio de esperança

seu amigo e sua noiva
entraram preocupados
perguntando sobre o choro
e por que foram convidados

"eu chamei os dois aqui
para me justificar
incidentes acontecem
mais aqui do que acolá

eu sei que a confiança
do amigo não é forte
e da noiva eu já perdi
tão mazela é minha sorte

por isto, a minha pressa
de falar com os dois agora
compromissos diferentes
marquei no mesmo dia e hora

reconheço os vários erros
tantas vezes cometidos
já deixei amigo e noiva
de corações demais partidos

eis então, minha agonia
logo após eu perceber
que uma ou outra relação
com certeza ia perder

comparecendo a um encontro
salvaria a amizade
mas não teria casamento
na igreja da cidade

encontrando com a noiva
garantiria uma parceira
mas o bar sem o amigo
se tornaria uma besteira

tendo em vista tal problema
recorro à vossa compaixão
peço aos dois que falem a sós
e resolvam minha situação

decidam em tal conversa
qual dos dois devo encontrar
garanto o outro compromisso
com nova data e lugar"

e assim foi dito e feito
amigo e noiva enfim toparam
conversar sobre o assunto
em um quarto que fecharam

uma hora decorreu
e os dois então sairam
josé mais do que aflito
perguntou o que decidiram

seu amigo e sua noiva
se entreolharam receiosos
disseram-lhe uma resposta
que doeu até nos ossos

"falamos muito de você
e do seu novo dilema
concordamos um com o outro
que você é o problema

isso durou só um minuto
mas passamos um belo tempo
conversando sobre a vida
e sobre aquele tal momento

nos conhecemos bem melhor
deu até pra se beijar
de você já esquemos
decidimos nos casar"

olha só, mas que azar
reunindo os dois ali
josé não esperava
que se engraçassem entre si

evitando perder um
perdeu logo foi os dois
e ainda, um pro outro
a vaca foi levando o boi

ele então ficou parado
observando os dois passando
de mãos dadas pela porta
que josé fechou chorando