sábado, 31 de julho de 2010

meu merecer

um sopro de samba
numa corda-bamba
o gosto da lama
me ajuda a viver

um cristal na mesa
não mostra beleza
mas doa leveza
pra quem quiser ter

meus meros anseios
não medem os meios
e nem ficam cheios
de tanto querer

envoltos em laço
todos querem um pedaço
mas não sei o que faço
pro meu merecer

sexta-feira, 23 de julho de 2010

a montanha

o meu lugar é abatido e ordinário
um santuário escondido por merecer
que nunca vê algo fora de suas mãos
mantendo sãos seus passeios circulares

os olhares sempre inventam o que enxergam
e nunca cegam sua repulsa pela montanha
tão estranha que parece não existir
e só surgir quando falida e aceitada

conformada segue a estrada interior
sem muita dor nem vontade restantes
por intantes parando ou tropeçando
e levantando no mesmíssimo lugar

sexta-feira, 16 de julho de 2010

1ª Sugestão do Blogs de Quinta

7 LIVROS QUE MARCARAM A MINHA VIDA
AVISO PRÉVIO: A lista a seguir não está em ordem de importância que cada um destes livros teve em minha vida, pois eu não saberia quais critérios usar para a construção de tal estrutura, e mesmo se soubesse, ainda assim seria complicado, visto que literatura não é o meu forte. Dessa maneira, resolvi organizá-los por ordem alfabética.

A Palavra e a Palavra, de Horácio Dídimo

Esse é um livro de poemas escritos de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Provavelmente esse estilo de poemas não foi inventado por esse autor, mas foi através dele que eu conheci esta forma de escrever poemas, que me influencia até hoje (os últimos dois conjuntos de poemas postados aqui no meu blog na "Série Velhos Poemas", além do próximo que vou postar nessa mesma série, foram inteiramente influenciados pelo estilo desse autor, pois fiz na época em que li esse livro). Acho que foi o único livro que me deu realmente vontade de conhecer o autor, o que felizmente consegui fazer, pois como se tratava de um paradidático cobrado no vestibular da UFC da época, houve uma palestra com o autor no Centro de Convenções, onde tive a oportunidade de perguntá-lo acerca do significado de um dos poemas do livro, e outra palestra que o meu colégio conseguiu agendar com ele, onde consegui seu autógrafo - que já nem sei onde se encontra, se é que ainda existe.

A Terceira Visão, de Lobsang Rampa

Esse livro é uma autobiografia de um monge tibeno, onde ele conta histórias tão fantásticas que é difícil para nós ocidentais acreditarmos, como o próprio autor do livro acentua em algumas passagens. Porém, independente da veracidade dos fatos relatados no livro, ele me marcou porque, além de ser um dos poucos que eu lembro que li por vontade própria, sem ser uma cobrança dos estudos, fez-me abrir a mente para o desconhecido, para as possibilidades, enfim, fez-me questionar as minhas próprias crenças.

Dizem que os Cães Vêem Coisas, de Moreira Campos
Meu tipo de livro preferido é de contos, e nesse quesito, Moreira Campos me aparentou ser um mestre. Esse foi o livro que me motivou a ler outros livros de contos sem precisarem estar relacionados com os estudos. Lembro-me da época de cursinho em que eu passava o intervalo na biblioteca procurando livros de contos para alugar. Eu até me estranho recordando disso, pois nunca fui muito de ler, mas nessa época de vestibular realmente eu não era eu mesmo. Os contos que eu escrevo são bastante influenciados por Moreira Campos, não sei se no estilo, mas com certeza na motivação de escrevê-los.

Laços de Família, de Clarice Lispector
Se "Dizem que os Cães Vêem Coisas" foi o livro que me motivou a ler e escrever contos, "Laços de Família" foi o livro que me apresentou esse estilo literário e fez-me adorá-lo. Lembro até de um trabalho do colégio - sim, esse livro foi um paradidático do 2º ano do ensino médio - em que cada grupo teria que fazer uma peça de teatro baseado em um dos contos desse livro. O meu grupo ficou responsável por dramatizar o conto "A Imitação da Rosa", onde eu fiz o papel da protagonista - sim, vesti-me de mulher. O conteúdo e a forma da escrita "lispectoriana" é tão conhecido que se torna indispensável falar sobre, mesmo porque eu não saberia como fazê-lo. Tudo o que eu sei foi que essa escrita me tocou de uma forma que só uma conhecedora profunda da subjetividade humana poderia conseguir. Clarice sente. O pensamento é sobre o sentimento. As palavras são sobre sentimento, e são sentimentos elas próprias. E a razão? Não sei, mas está bem longe do ser humano.

Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
Esse livro é sobre infância. É sobre um garoto que conversa com um pé de laranja lima sobre as coisas que lhe ocorrem. Nossa, mas que livro chato! Nunca desejei tanto acabar um livro quanto esse, acabar tanto de ler como acabar fisicamente com ele - pelo menos até a época em que eu o li, porque depois disso veio "Agosto", "Os Sertões", enfim... Então, por que ele está aqu? Justamente por isso, ou seja, exatamente por ter sido a minha primeira grande dificuldade enquanto leitor foi que ele marcou a minha vida, mesmo que tenha sido negativamente. Lembrando hoje, não me parece um livro ruim, claro que não, eu até conseguia gostar de lê-lo em alguns momentos, mas como a maioria dos livros desta lista, trata-se de um paradidático do colégio, e esta maldita cobrança não me deu o tempo necessário para que eu aproveitasse essa leitura de forma que ela pudesse me preencher mais do que me esgotar.

O Enigma da Casa de Vidro, de Ganymédes José
A história desse livro fala de um rapaz que resolve entrar em uma hospedaria abandonada, e lá ele encontra um diário de algum dos hospedes de anos atrás relatando fatos intrigantes que ocorreram lá. Pelo que eu lembro, na época em que eu li esse livro, ele se tornou meu livro preferido. Deve ser por isso que sempre quando alguém me pergunta sobre os melhores livros que eu já li na vida, ou os que mais me marcaram, como é o caso agora, o primeiro que eu lembro é ele. Acho que o principal motivo disso é porque a história é cheia de suspense, com algumas insinuações de terror e tal, esse tipo de coisa que eu sempre amei. Na época, eu nunca tinha lido um livro desse estilo, talvez por isso tenha me chamado tanta atenção.

Será que É? Será que Não É?, de [?]
Tudo bem, já falamos de poemas, contos, biografias e romances, mas agora vamos deixar de papo furado e falar sobre algo realmente sério... Esse livro é macabro! Não, sério... esse livro é muito bizarro!Como vocês podem ver, eu nem sei o nome do autor, até procurei no Google mas não achei nada a respeito dele e nem do livro, o que me faz até duvidar se esse é mesmo o título, e até se esse livro realmente existe ou se foi uma invenção do demônio. Enfim, vamos ao que interessa... Tá bom, eu sei que é só um daqueles livros infantis que em cada página tem uma ou duas frases, mas na época em que eu li, ou melhor, em que a professora do Jardim II leu pra gente pouco antes do recreio, ele me meteu muito medo! O pior de tudo, é que o livro não tem nada que normalmente possa assustar, pelo contrário, todos os meus coleguinhas de sala morriam de rir enquanto eu morria de medo, esforçando-me para dar uma risadinha legítima que fosse, mas só conseguia disfarçar. A história é sobre um menino que, sem motivo aparente, começa a ter as partes do seu corpo transformadas em outras coisas, nem lembro quais. E todo o livro girava em torno do seguinte padrão: "Será que é? Será que não é? Meu(minha) [parte do corpo] virou um(a) [objeto rimando com a parte do corpo]!" E esse começo, que eu acredito que serve de título para o livro e que expressava a grande dúvida e confusão na mente do garoto sobre a veracidade do que estava a lhe acontecer, era o que mais me aterrorizava. Esse padrão era tão repetido durante o livro que, na minha memória, a professora até encorajava às crianças a dizerem "Será que é? Será que não é?" junto com ela, e todas faziam-no se divertindo aos montes! Quer dizer, todas menos eu... Até quando a professora virava o livro para nos mostrar as figuras, onde em vez de um braço, ou uma perna, ou uma boca, etc, tinha alguma outra coisa no corpo do garoto, eu fechava os olhos para evitar a lembrança atormentadora da imagem. Aquilo era um show de horror! Parecia uma ceita demoniaca onde essas palavras serviam de prelúdio para cada frase de evocação do satanás! É como se fosse o inverso de "Aleluia!" ou de alguma dessas frases que as pessoas dizem na missa em coro repetidamente, intercaladas por alguma outra frase do padre, sei lá... A única das passagens que eu lembro de todo o livro, talvez por ser a mais aterradora ou por ser uma das poucas em que eu tive coragem de ver a gravura correspondente a ela, é "Será que é? Será que não é? Meu nariz virou um chafariz!". Será que isso é ou não é sinistro?! Depois de tudo isso, vou ver se ainda consigo dormir...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

DIÁLOGO XIII

UM OLHAR INTENCIONAL

O que é mais importante em um livro, as ilustrações ou as palavras? O que é mais importante em uma música, a letra ou a harmonia dos sons? O que é mais importante em um filme, a história ou as imagens? Acho que um livro pode muito bem viver sem gravuras, mas não sem palavras. Uma música pode muito bem evocar sentimentos somente com os sons, mas tire estes e tente chamar o que sobra de "música". Da mesma forma, um filme pode apontar para um universo de significados somente por via das imagens, mas não poderia ser considerado um filme sem estas.

O que eu quero dizer é que cada forma de arte tem a sua essência, aquilo que a define, aquilo que não pode faltar, pois quando falta, compromete o seu próprio conceito. Claro que eu gosto de ler um livro onde possa ver imagens ilustrando algumas passagens, claro que uma música pode guiar meus pensamentos por belos caminhos através da expressão verbal de outrem, e é claro que é muito divertido assistir a um filme que me conte uma boa história. Mas isso tudo é o essencial em cada caso? Não. Aqui só estou falando de três formas de arte, mas creio que isso vale para todas as demais, e o essencial em cada uma nunca é idêntico ao outro, por mais semelhante que possa ser.

Isso parece muito óbvio, mas não é fácil perceber o quanto resistimos à apreciação dos aspectos fundamentais que servem de base para uma obra artística, e eu estou falando da apreciação somente desses aspectos. Isso não quer dizer que eu desconsidere todo o recheio que faz o bolo ficar mais suculento, mas sim que frequentemente esquecemos sua principal função: alimentar. E assim como o bolo, a arte nos alimenta de sentido, de significado, de sentimento, ou seja, de boa parte do que o ser humano precisa para sobreviver neste mundo inóspito. O resto é vaidade.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

minipoema à jovem mulher que me fez lembrar da bela índia

lança o tema
sem dilema
caiu o trema
do aguentar

tão amena
iracema
o problema
é não amar