quinta-feira, 29 de abril de 2010

maravilha

sobe e desce, come e bebe
um chá dinâmico e pontual
sentada à mesa de uma lebre
não convém ser tão normal

sobrevivente da inundação
de suas lágrimas gigantescas
salvou um porco bem chorão
da maldade de uma duquesa

em um jogo diferente
as cabeças corriam risco
mas seu amigo sorridente
escapou de modo arisco

de repente se deu conta
de toda aquela engenhoca
mas um coelho disse "tonta"
e foi pra dentro de sua toca

sexta-feira, 23 de abril de 2010

o escritório

comédia da vida pública
sem escolha, obrigada,
jogada, arruinada, desgraçada
engraçada só pra quem vê
a sorte grande é o menor prazer
um acerto entre o caos da folia
a falta de sentido, comprimido
sufocado, tiro pra todo lado
determinado a não crescer
empurrado ao sol nascer
sempre em frente, nunca tente
o diferente sempre mente
e quem sente ri pra não morrer

quinta-feira, 15 de abril de 2010

DIÁLOGO XII

"ARE YOU TALKING TO ME?"

Sempre gostei de filmes. Porém, de uns meses pra cá, acho que este gosto tem se transformado numa paixão. É certo que praticamente todo mundo assiste filmes, mas destes, somente alguns gostam de discutir sobre eles, e destes, somente alguns sabem o que estão dizendo. É certo também que só sabem discutir sobre filmes aqueles que assistem o maior número possível destes, e de qualidade.


Digo isto porque não adianta você assistir trezentos dramalhões estilo Sete Vidas, quinhentas paródias ao nível de Todo Mundo em Pânico e mil filmes de ação com o Steve Segal pra dizer que assistiu muitos filmes e, por isso, sabe discutir sobre eles. É preciso assistir muitos filmes, sim, mas filmes que mostrem porque o cinema é uma arte antes de ser uma indústria. Dentre estes, os considerados clássicos são insuperáveis.

Eu já tive muita resistência em assistir este tipo de filme, mesmo quando meu gosto por cinema já se transformava em paixão. Antes mesmo de assistir obras-primas como O Poderoso Chefão e Casablanca, eu já os achava chatos, enfadonhos, monótonos, enfim, tudo o que um bom preconceito diz servir de argumento contra algo. Mas, quando meu interesse por cinema atingiu uma maturidade que não se satisfazia mais com o conforto da identificação com o meu tempo projetado na grande tela, aventurei-me por tempos passados, até remotos, sendo aí onde e quando o cinema me afetou da melhor forma.

Já virou um clichê pseudo-intelectual dizer que os melhores filmes são os antigos. Claro que não podemos generalizar nada neste mundo, até porque só podemos falar do que conhecemos. E é por isso mesmo que eu digo: os melhores filmes são os antigos! Seja pela forma madura de contar histórias, mesmo aquelas voltadas para o público infanto-juvenil; seja pelo tipo de mensagem despretenciosa e confiante no poder de reflexão do público que as recebe, sem precisar se escrachar em verborragias quando se pode usar apenas imagens; seja pelos diálogos extremamente necessários para os rumos das ações, sem apenas narrá-las e serem conduzidos por elas; seja pela sincera preocupação em fazer arte, ousando por necessidade criativa e não por destaque.

É uma experiência mágica perceber de onde os melhores diretores da atualidade tiraram sua maneira de fazer filmes, ou seja, conhecer o mestre do seu mestre. Isto aconteceu comigo particularmente quando eu assisti aos faroestes que compunham a chamada "trilogia dos dólares" de Sergio Leone, a saber: Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito. Foi aí que eu percebi de cara a influência destas películas em Quentin Tarantino, considerado por mim um dos maiores diretores/roteiristas de cinema ainda vivo.

Enfim, minha intenção aqui não é fazer uma apologia aos clássicos do cinema - mesmo já o tendo feito -, mas sim expressar minha paixão pela sétima arte e mais ainda pela arte em geral (já falei que o amor da minha vida é a música?). Só pra não dizer que eu não valorizo o cinema contemporâneo, aqui vão alguns exemplos de ótimos filmes produzidos em nossa época: Dogville (Lars von Trier, 2003), Onde os Fracos Não Têm Vez (Joel e Ethan Coen, 2007), Os Bons Companheiros (Martin Scosese, 1990), Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009), O Lutador (Darren Aronofsky, 2008), Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002), Abril Despedaçado (Walter Salles, 2001), dentre outros...

Antes de finalizar, gostaria de deixar aqui o nome de quatro diretores que eu considero os melhores dentre os que eu conheço razoavelmente o trabalho: Quentin Tarantino, Stanley Kubrick, Sergio Leone e Martin Scosese. Agora sim, pra finalizar, deixo aqui meu Top 10 Melhores Filmes, que levei meses pra fazer. Já postei essa lista em meu flog (http://fotolog.com/quase_quasimodo), mas de uns dias pra cá pensei em algumas revisões, que sempre vão ter à medida que eu for assistindo mais filmes, ou seja, não sei até quando esta lista vai valer do jeito que ela se encontra aqui!

01. O Exorcista (William Friedkin, 1973)
02. Tempos Modernos (Charles Chaplin, 1936)
03. Três Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966)
04. 2001: Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick,1968)
05. Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994)
06. O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 1972)
07. Era uma Vez na América (Sergio Leone, 1984)
08. Metrópolis (Fritz Lang, 1927)
09. Casablanca (Michael Curtiz, 1942)
10. Noite dos Mortos-Vivos (George Romero, 1968)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

casa imunda

as migalhas sujam o alpendre
e o cocô macha as paredes
entre elas há duas redes
cujos donos não se tocam

nem palavras eles trocam
desde não se sabe quando
e as aves vêm voando
pra buscar seu alimento

miolos brancos no cimento
e mal comem, já descomem
melando toda a casa do homem
deixando só um clima hostil

quinta-feira, 1 de abril de 2010

cidade estranha

um amor nunca foi tão parte
desta vida e seu grande preço
ativa e cativa como toda arte
a favor do mundo e seu tropeço

a indiferença pode até servir
pra se manter sem ameaças
mas o acaso poderá pedir
uma decisão que lhe dê asas

em meio à guerra há um oasis
de liberdade em outra pessoa
pois a vida tem suas fases
até pra quem só vive à toa

a casa deles estava longe
mas ali encontraram um lar
pois sentimento não vê onde
só vê quando pode se dar