sexta-feira, 26 de março de 2010

estabanado

perito em se estabanar no primeiro encontro ocasional
junqueira lopes de melo e cruz atravessava a perimetral
lembrando da bela moça que conhecera no carnaval
e da camisa que esquecera pendurada em seu varal

naquela noite em que a lua se espreguiçava no quintal

e a cor da maisena fazia parte do casal
se amassavam entre as ruelas sem medo de cobra coral
sem problema quando ela disse que fazia tudo senão anal

não havia poesia em suas juras de amor carnal

mas prometeram ficar pregados pelo menos até o natal
entretando hoje à tarde a bela moça passou mal
e lá vai junqueira lopes sair atrás de um sonrisal

perito em se estabanar no primeiro encontro ocasional

estabanou-se num chevete e foi parar no hospital
depois de um mês pensando que ia ficar tudo legal
ele teve uma recaída inesperada e foi fatal

quinta-feira, 18 de março de 2010

5º CONTO

CENTOPÉIA

Quem somos nós para falarmos sobre as coisas da vida? Para toda faísca de essência humana que se apresenta das formas mais banais é levantada uma série de questionamentos, e centenas de linhas são escritas para defender alguma outra idéia minimamente compreensível sobre a estranheza de nós, algo que seja capaz de satisfazer ou pelo menos aliviar a sede dos homens por respostas. Pobres homens... O peso das aparentes descobertas que sempre calam nossa compulsiva prepotência um dia há de nos surpreender muito. E aí, já não teremos certeza de mais nada.

Devia estar dormindo àquela hora, mas a fome era tanta que nem se dava o luxo de comer alguma coisa – fome de grandeza. Livros enchiam a escrivaninha e alguns outros móveis, papéis soltos passavam de mãos para gavetas, e destas, novamente para mãos suadas e sempre ocupadas. Os olhos se esbugalhavam para não ceder ao sono. Parava as atividades por alguns minutos somente para fazer mais e mais café. Nem mesmo um suspiro de cansaço caberia entre aquelas luzes concentradas e as folhas de papel lotadas de letras e algumas fórmulas extravagantes. Num clima de caos e cafeína, aquele ser humano acreditava em si.

No dia seguinte, era abordado por todos do trabalho com os “que anda fazendo?” de costume. Respondia mordendo a língua enquanto se esquivava desajeitado dos indesejáveis curiosos. Sua cabeça era rodeada por teorias e novas perguntas que pareciam fazer parte de seu próprio corpo. Ansiava pelo fim do expediente e abria mão do horário livre, só para matar sua fome. Seu egoísmo e sua vaidade, juntos, consumiam-no aos poucos, deixando apenas os restos que eram visíveis a qualquer mísero olho nu. Não poderia ser tão complexo assim, acontecia no dia-a-dia, até um mendigo sem o mínimo de instrução era capaz de sentir e explicar aquilo de acordo com sua típica ignorância. Mas ele procurava por ciência, por lógica, sempre atento a qualquer vulto de razão que se movesse rapidamente entre um pensamento e outro para, no momento exato, acertá-lo com seu poderio mental.

Os dias fluíam que nem segundos, e até lembrou-se da Relatividade de Einstein. Viu? Cada pergunta era mãe de uma resposta firmada, mas deviam ter sido separadas em tempos remotos por algum místico louco que só queria chamar atenção, com certeza por mero capricho. Sentia que estava no caminho certo. Só mais algumas noites em claro, algumas dezenas de papéis marcados de lado a lado, e todas as idéias estariam registradas, somente esperando por alguma mente brilhante que juntasse os pedaços na ordem certa. E assim, o tempo corria...

Em algum dia sempre comum para ele e novo para os outros, caminhará de volta para casa com a mesma pressa característica daqueles viciados que passam indiferentemente pelas portas, pelas pessoas e por qualquer outro obstáculo que julgam não existir ou não apresentar perigo, e fincará os olhos involuntariamente em uma figura capaz de lhe fazer parar pela primeira vez e observar o acaso. Neste momento, todos os números, letras e exaustões que ainda hoje circulam sua mente cairão sob seus pés e se quebrarão como vidro a uma distância que ele poderá até pisá-los, se não estiver intacto. Tudo fará sentido para ele e não para o mundo. Depois de longas unidades de tempo que não se pode denominar, ele terá todas as respostas, mas não se importará em jogá-las na cesta de lixo à sua esquerda.

quinta-feira, 11 de março de 2010

males

dona astride tem gastrite
salvador tá com tumor
seu alceu adoeceu
conrado tá resfriado
mônica tem dor crônica
nicolau já passa mal
dona lia tem leucemia

e todos vão para a igreja
pra pedir que o padre veja
alguma coisa que esteja
a favor de sua peleja
contra todo mal que almeja
servir as almas numa bandeja
ainda mais com uma cereja
pro diabo que as fareja

mas o padre não tem mais
tanta força pra ir atrás
do maldito satanás
pois ser bom nunca lhe traz
benefícios que jamais
permitam que males fatais
lhe arranquem toda paz
que sempre lhe satisfaz

o diaconato tem infarto
o sacerdote vê a morte
o seu bispo corre risco
o cardeal é perirenal
papa bento morre lento
o coroinha tem espinha
marcelo rossi tá com tosse
e a freira com caganeira

quinta-feira, 4 de março de 2010

o macho

se um fantasma aparecer
o primeiro a correr sou eu
se o silêncio acontecer
o primeiro a falar perdeu
se o verão nos aquecer
o primeiro copo é meu
se ela aqui se ofender
o primeiro tapa é seu

se uma distância aumentar
a primeira será a da lua
se o meu fusca falar
a primeira frase é crua
se as regras eu ditar
a primeira é "fique nua"
e se você não gostar
a segunda será "pra rua"