sábado, 30 de junho de 2007

o relógio

dançante, sempre amante, vai levando minha alma longe
ao som mais belo das cordas vocais eu espero
calmante, agonia sufocada pela harmonia da mágica flor
delirantes, meus pés tocam a nuvem que Lhe serve de repouso
novo, inédito luar, nunca mais e pra sempre terei
de noite a vida chora e renega o prazer de estar em qualquer lugar
só há o som e eu voando imerso no vazio cheio de luz
meu corpo é mente, e a mente evapora na vibração daquela nota
daquela nota que ninguém ousa tocar
rápida viagem ao eterno azul do nada estelar
espaço por demais lotado de mim e dele mesmo
o relógio marca a hora do libertar

terça-feira, 26 de junho de 2007

um jeito tosco

um modo interessante de sugar a luz das estrelas
uma carne crua cheirando à posse e compreensão
um jeito tosco de dar e pedir carícias
uma frase fula numa boca de algodão

um beijo que mal liga pra uma razão de acontecer
um fio de cabelo que o vento escolheu tocar
um poema pobre que não fala mais do que quer dizer
um rosto longe de todo o amor que eu posso dar

quinta-feira, 21 de junho de 2007

hoje não

hoje não tem mais amanhã
hoje não tem mais depois
hoje não tem mais tarde
hoje o dia e a noite acontecem
simultaneamente

a melodia extrema
de um rock desconcertante
troa no pé-do-ouvido
e no pé-da-serra
a brisa me espera
ainda hoje

hoje não quero ser mais ninguém
hoje nem querer eu quero mais
hoje não tem fala nem sombra
hoje eu existo
e hoje não mais.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

a toca

pode ser vedade que o vento não resiste à tentação
de andar sempre na mesma direção
mas se não for, quero ver ele dar a curva
é lá onde tu se esconde, né?

é pra lá que eu quero ir, mas não vou
tenho medo, e mesmo assim não encontro o caminho
a estrada é eslameada: terra e lágrimas de nós dois
que ainda virão a gotejar dentro e fora do coração
em cada nota de uma canção

mesmo assim, vamos lá, enquanto estou no embalo
dou a cara à tapa, dou a alma à união
o coração fica pra depois, a gente nunca precisou dele mesmo
não é mesmo, meu anjo?
meu coração.

terça-feira, 5 de junho de 2007

jovem poema

a chuva me alerta
que já é hora de dormir
pois o tempo existe


existe mais que eu
existe mais que deus
existe mais que o existir
existe mais e tão mais
que não mais resiste


a chuva me alerta
que já é hora de pensar
descansar da vida
e morrer devagarinho

tenho distúrbio de atenção
tenho tudo bem longe de mim
tenho preguiça de acordar
e existir por mais um dia

me leva chuva
caindo pra cima
caindo na rima
desse jovem poema

não me deixa aqui na vida
me tira desse dia-após-o-outro
me tira o amor e o ódio
de viver sem mim